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>>Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br
Noite, cerveja gringa, um show triste
PERDIDO NA noite paulistana, decido tomar uma Guinness antes de voltar para
casa. É um bar pequeno na região da rua
Augusta, sem placa ou letreiro, um dos poucos
na cidade que vende o néctar irlandês sem estar infestado de playboys.
Entro, e sou atingido pelo som que vem de
um palco ao fundo. É um cover acústico de
"Ciúme", do Ultraje a Rigor. Não faço idéia de
quem é aquele sujeito ao violão, berrando:
"Mas eu me mordo de
ciúme!"
A balconista que me
serve a Guinness informa que se trata de Wander Wildner, músico
gaúcho das antigas, ex-Replicantes, hoje em
carreira solo.
Tinha lido, acho que
aqui mesmo na Folha,
que Wildner, baseado
no Rio Grande do Sul,
de vez em quando passa
uns dias em São Paulo,
fazendo esses shows
acústicos para platéias
de poucos e bons.
No caso da apresentação que vi, não sei se o
público era desses bons,
mas com certeza era de
poucos. Cerca de 20 gatos pingados, na maioria com aquele visual indie-hippie que parece
ser dominante na atual
noite de São Paulo, assistiam imóveis à apresentação. Já estive em
velórios mais animados.
Por questão de idade e
certa vergonha, faz muitos anos que não vou a esse tipo de lugar. Mas não senti nenhum estranhamento
-parecia ter voltado 15 anos no tempo.
É o mesmo de sempre: artistas bem conectados na
descolândia ganham status de "cult", são bem tratados
na imprensa, mas não resistem a um mínimo choque
de realidade. Não têm público.
Essa noite também serviu para colocar no devido tamanho o poder do mundo indie paulistano.
Claro que não dá para usar esse show caidaço como
parâmetro de toda uma cena, mas tenho sérias dúvidas se esse universo "alternativo" tem fôlego ou relevância para qualquer coisa mais vigorosa do que essa
triste apresentação de Wander Wildner.
CD PLAYER
PLAY:"Galileo (Someone Like
You)", Declan O'Rourke
Romance e ciência nessa balada que
Paul Weller escolheu para o CD da
revista "Uncut" deste mês.
PAUSE: "Simpons, o Filme"
Acho que foi o "New York Times" que
definiu: o filme é tão bom quanto um
episódio mediano do desenho na TV. É
mesmo.
EJECT: A volta da Blitz
A prova de que está errado o ditado
"não há mal que sempre dure".
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