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comportamento
Magreza não tem fim
Foi assim no
ano passado; será assim no ano que vem: modelos magérrimas ainda estão na moda
LETICIA DE CASTRO
LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL
A
manhã nasce uma
outra top model. Ela
é adolescente, tem
cerca de 1m75, pesa
uns 50 kg e é dona de
pernas finas, de quadril estreito
e de seios pequenos.
A vencedora do Supermodel
Brazil -o mais famoso concurso de "new faces" do mundo, da
Ford Models, cuja final brasileira acontece amanhã- ainda
nem foi escolhida, mas já se sabe exatamente como ela será:
supermagra.
E na sexta-feira desta semana, quando acontece outro
evento caça-modelos, o Elite
Model Look, a vencedora será
como? Supermagra.
Foi assim no ano passado, será assim no ano que vem e, segundo profissionais da moda
ouvidos pelo Folhateen, as
modelos supermagras serão
por um bom tempo a opção de
estilistas, seja na passarela seja
em editoriais ou em anúncios
de revistas.
Com 1m74, 47 kg e uma das
15 escolhidas entre quase 600
mil inscritas para a final do Supermodel, a gaúcha Rafaela
Link, 13, é voz dissonante.
Ela não concorda com a ditadura de seu próprio biotipo:
"Acho as pessoas saudáveis
mais bonitas, não interessa se é
gordinha ou magra. Acho que
não deveria existir essa exigência de magreza, porque precisamos transmitir saúde, e não
doença. O visual muito magro
passa sensação de doença. Prefiro ver desfilando uma garota
de corpo bonito, com curvas, a
uma esquelética".
Jurados
Mas não será esse o critério
que o fotógrafo Gui Paganini levará em conta na hora de julgar
Rafaela. Paganini é um dos jurados do Supermodel Brazil.
"Nos anos 90, para ser modelo tinha que ser gostosa. Mas o
mercado se cansa, e a moda é cíclica. Então, aquela beleza pura, de Cindy Crawford [modelo
que foi o padrão de "mulher
gostosa" na década passada],
cansou. Precisa de um algo a
mais. Os estilistas buscam mulheres mais estranhas para se
diferenciarem do comum."
A discussão da magreza excessiva no mundo da moda ganhou destaque há duas semanas com a morte da modelo
Ana Carolina Reston, vítima de
anorexia (leia na página 8).
Dois meses antes, na Espanha, duas garotas foram proibidas de desfilar na semana de
moda de Madri por serem magras demais. Um mês depois, o
estilista Jean-Paul Gaultier engrossou o caldo da polêmica ao
colocou uma modelo de 132
quilos na passarela, na última
semana de moda de Paris.
Mas esses ainda são casos
isolados no mundo da moda,
pois o mercado não parece disposto a mudar sua exigência.
Para a diretora da Elite Brasil,diz Adriana Ferreira Leite,
"a magreza já vem de tempos. É
um padrão mundial, e eu acho
muito difícil mudar. Acho que
as pessoas precisam prestar
atenção na parte da saúde, porque muito magra também não
dá. Ela precisa estar naquela
medida perfeita. Mais ou menos não funciona".
"Estamos procurando por
um novo talento, que tenha o
potencial para se tornar uma
estrela, como Camila Finn, Liliane Ferrarezi e Luciana Curtis", explica a dona da Ford Models, a americana Katie Ford,
citando três tops brasileiras,
todas bem magras.
"É ridículo"
Por conta dessa lei injusta,
Emilia Cechele, 17, vencedora
do Elite Model 2003, teve de
abrir mão da passarela. Com
1m80 de altura e 64 quilos, ela
não está no chamado "padrão
fashion". "Adoraria ser mais
magra, mas não vale o sacrifício. Não vou correr o risco de ficar doente fazendo dietas muito radicais. Teve uma época em
que tomava laxante porque tinha que ficar magra para a passarela. Eu não era magra, mas
era uma pressão que eu mesma
fazia", diz Emilia, que agora faz
comerciais.
Para a modelo da Elite Gabriela Urnau, 16, 1m77, 49 quilos, a magreza exigida no mercado atualmente é "ridícula".
"Se falarem para eu emagrecer,
eu vou falar: "tô nem aí". Faço
mais comercial, não faço muito
fashion. Acho feio, os osso ficam aparecendo. É ridículo."
Já Kaoany Valiati, 13, 1m76,
50 quilos, uma das 15 finalistas
do concurso da Ford, discorda.
"Acho bonito um monte de menina seca, alta, desfilando".
Para manter a forma, a menina de São José do Rio Preto, interior de SP, controla a alimentação, caminha e faz entre cem
e 150 abdominais todos os dias.
"Se eu fizer mais atividade física eu crio músculo, e não pode. Tem que ter a barriga retinha, não pode ter celulite, mas
também não pode criar músculo porque modelo tem que ser
seca", acredita.
Nem todo mundo é
Já Alexia de Almeida Araújo,
15, 1m76 e 53 kg, outra escolhida para a final de amanhã, nada
contra a corrente: "Não me
preocupo e não fico olhando as
calorias das coisas que como.
Eu como e depois ando. Não faço academia e, por não ter bicicleta, ando para caramba", diz a
moça de Santos, SP.
Biti Averbach, editora de moda da revista "Marie Claire" há
sete anos e também jurada do
Supermodel Brazil, já viu modelos desmaiarem durante sessões de foto de editoriais de
moda por não terem comido
nada o dia todo.
"Uma coisa é a mulher ter um
corpo esbelto e conseguir mantê-lo com facilidade. Uma outra
coisa é essa loucura de a pessoa
não ter aquele corpo e começar
a fazer de tudo para emagrecer", diz a editora.
"Todo mundo quer a mulher
magra. Em termos de desfile,
existe uma tradição francesa,
principalmente na alta-costura, em ser esquelética. Não sei
onde surgiu isso, mas acredita-se piamente no mundo da moda que a roupa cai melhor numa modelo magra", finaliza.
E você? Acredita? Nem todo
mundo é da moda. E nem precisa ser. Tá?
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