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Escuta aqui
Álvaro Pereira Júnior - cby2k@uol.com.br
Atire-se no abismo de The National
VOCÊ PODE ficar feliz
com esta coluna pela
dica que vou passar.
Ou pode ficar bravo (com razão), pelo toque não ter sido
dado antes.
Isso porque vamos falar de
"Boxer", CD da banda The
National, lançado em maio do
ano passado e criminosamente ignorado por "Escuta Aqui"
até hoje.
Imagine os dilemas barrocos de Nick Cave acompanhados pelo Crazy Horse de Neil
Young. Atmosfera soturna,
padrões obsessivos de baixo e
bateria e, principalmente,
uma voz grave que parece
emanar do abismo mais profundo.
Na definição precisa da revista americana "Paste", o líder do The National, Matt
Berninger, é também um herdeiro "colarinho branco" de
Bruce Springsteen. Mas, aqui,
a espontaneidade proletária
de Bruce é substituída por
uma atitude mais pensada,
cerebral (no bom sentido). E a
New Jersey operária do
"Boss" dá lugar ao descolado
Brooklyn, região do momento em Nova York, onde o National se instalou depois de
mudar-se de sua Cincinnati
(Estado de Ohio, meio do nada) natal.
Aliás, foi por causa da "Paste" que finalmente decidi
prestar atenção a "The Boxer". A revista cravou o National na capa da edição de janeiro de 2008, dizendo: "Essa
banda fez o melhor disco de
rock de 2007. Você sabe
quem é?" Confesso que mal
sabia.
Há muito tempo, claro, ouço falar deles. Mas temia que
seguissem a linha, por exemplo, do Guided By Voices, o
chamado "alt country" -a
meu ver, pensado e "nerdy"
demais. Encontrei, na verdade, algo com identidade própria, que, se é para buscar
uma comparação, me lembrou a música profunda de
bandas da Nova Zelândia dos
anos 90, como o Bailter Space.
O som do National, capiteneado pela voz firme Berninger, escapa das armadilhas do
"alt country". Não é um artefato de mentes de classe média olhando de modo condescendente para a raiz musical popular. É genuíno, adulto. É
arte.
CD PLAYER
PLAY - "Boxer", The National
Escute já. Ou guarde para o dia em que
você virar gente grande.
PLAY - "Brainy", The National
Minha música preferida do CD. "Você
sabe que eu guardo suas digitais numa
pasta rosa no meio da minha mesa".
EJECT - "Desejo e Reparação"
Só eu achei esse filme dirigido e editado
com mão pesada, artificial, vazio? Com
essas credenciais, é bem capaz de
ganhar o Oscar...
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