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São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2003

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Gravadoras dão o bote na música grátis na internet

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA

O mundo acaba de desabar sobre as cabeças de quatro universitários americanos. Eles são alvo de um processo bilionário movido pela associação das grandes gravadoras dos EUA. Acusação: facilitar a troca gratuita de músicas pela internet. O processo foi aberto no dia 3 de abril, e noticiado semana passada pelo jornal "The New York Times".
O caso é muito grave para quem baixa música pela rede. Isso porque a ação judicial não é contra um grande serviço de troca musical, como o Napster - que as gravadoras conseguiram fechar em 2001. Agora, o processo é para cima de indivíduos, gente comum, pacata, estudiosa.
Para sacar o que está acontecendo, é preciso, primeiro, entender o sistema universitário americano. Ao contrário do que acontece no Brasil, nos EUA é muito comum fazer faculdade bem longe de casa. Há boas universidades no país inteiro, e os jovens aproveitam para transformar os anos de estudo em uma época de muita liberdade e amadurecimento.
Em geral, a rapaziada mora nos alojamentos das próprias universidades, os chamados "dorms" (abreviação de dormitórios).
Na grande maioria dos casos, um quarto de "dorm" tem uma coisa maravilhosa: conexão rapidíssima de internet, do tipo em que você pluga o computador e parece que o bichinho vai sair voando.
Para complicar, em quase todos os Estados americanos, menores de 21 anos não podem fazer nada. Não entram em bar, não compram bebida, quase não podem entrar em shows. Como resultado, a vida da molecada acontece mesmo no campus, dentro dos "dorms". Essa combinação não podia dar em outra coisa: horas e horas na frente do computador, tentando achar coisas legais para fazer, como baixar música de graça pela rede!
Há cerca de dois anos, de tanto as gravadoras apertarem, muitas universidades diminuíram a velocidade das conexões, para ver se os estudantes desistiam dos "downloads". De fato, a ligação com o mundo exterior ficou um pouco mais lenta, mas, logo se deu um jeito. Os alunos começaram a formar redes internas. Assim, para baixar aquela canção bacana, nem era preciso entrar num serviço de troca -bastava procurar em outros computadores da própria faculdade!
São exatamente essas redes internas os novos alvos das gravadoras. Os quatro jovens que estão sendo processados armaram um esquema para fazer "dowloads" dentro de suas universidades.
Sabe quanto as gravadoras querem, no total, dos quatro rapazes? US$ 98 bilhões, ou seja, R$ 300 bilhões! Claro que eles jamais poderão pagar tudo isso, e algum acordo será feito. Mas, mesmo que não levem a grana, as gravadoras já conseguiram o que queriam: apavorar a estudantada.


Álvaro Pereira Júnior, 40, é editor-chefe do "Fantástico" em São Paulo
@ - cby2k@uol.com.br



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