São Paulo, segunda-feira, 28 de junho de 2004

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ATENAS TEEN

Treinando nas águas frias de Florianópolis, Fabiana Beltrame é a primeira mulher a representar o país no remo

Tocando o barco

DA REPORTAGEM LOCAL

Durante a guerra de Tróia, há mais de 3.000 anos, as remadas de homens fortes ajudaram a conduzir centenas de grandes navios gregos pelo Mediterrâneo. Em agosto, os braços femininos de uma brasileira vão impulsionar uma pequena embarcação, na raia artificial montada para a competição de remo, nos Jogos Olímpicos de Atenas: a catarinense Fabiana Beltrame, 22, é a primeira mulher brasileira a disputar uma Olimpíada.
"Eu fico bastante orgulhosa com esse feito, espero que traga mais praticantes para o esporte", diz a atleta, que afirma não ter chances de medalha. "O remo do Brasil está bem atrasado em relação a outros países, como Itália, Bulgária e Nova Zelândia."
Apesar disso, no entanto, chegar a Atenas já é uma vitória pessoal, para quem acordava às 5h30, com o termômetro marcando zero grau, para treinar nas águas geladas de Florianópolis, sem ganhar nada. "Eu treinava antes de ir para a escola. Minha mãe ficava superpreocupada", lembra.
Fabiana treina de quatro a seis horas por dia, todo dia. Dificilmente vai para a balada. "Gostar de sair, eu gosto, mas não tenho muito pique. Depois de uma semana puxada, preciso dormir para me recuperar."
O sono faz parte do treino, além de remadas e musculação, com um intenso trabalho de pernas. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, elas são mais utilizadas do que os braços no remo. "É como aquela máquina que existe nas academias."
Fabiana começou a treinar com 15 anos. "Eu ia andar de bicicleta na av. Beira-Mar e via o pessoal remando, aí fiquei curiosa. Eu e uma amiga que também gostava de esporte começamos a treinar juntas, depois competimos em campeonatos estaduais."
De lá para cá, já ganhou dezenas de medalhas e troféus em várias categorias, que decoram o seu quarto: todos os campeonatos estaduais desde 1998, todos os brasileiros desde 1999 e medalhas de ouro, prata e bronze no Campeonato Sul-Americano desde 2001. Na Copa do Mundo da Suíça, de onde acabou de voltar, ficou em 11º.
Apesar de tantos prêmios, ela não tem patrocínio. Vive com a ajuda de custo do seu clube, estuda educação física e mora com os pais -o pai é aposentado e a mãe, dona-de-casa. "É difícil viver do esporte." A amiga que começou a treinar com ela desistiu. "Os atletas do Brasil precisam ter muita raça mesmo para chegar a uma Olimpíada, porque a gente não tem apoio."


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