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ATENAS TEEN
Treinando nas águas frias
de Florianópolis, Fabiana Beltrame é a primeira mulher a representar o país no remo
Tocando o barco
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante a guerra de Tróia, há mais de
3.000 anos, as remadas de homens
fortes ajudaram a conduzir centenas de grandes navios gregos pelo Mediterrâneo. Em agosto, os braços femininos de
uma brasileira vão impulsionar uma pequena embarcação, na raia artificial montada para a competição de remo, nos Jogos
Olímpicos de Atenas: a catarinense Fabiana Beltrame, 22, é a primeira mulher brasileira a disputar uma Olimpíada.
"Eu fico bastante orgulhosa com esse feito, espero que traga mais praticantes para o
esporte", diz a atleta, que afirma não ter
chances de medalha. "O remo do Brasil está
bem atrasado em relação a outros países,
como Itália, Bulgária e Nova Zelândia."
Apesar disso, no entanto, chegar a Atenas
já é uma vitória pessoal, para quem acordava às 5h30, com o termômetro marcando
zero grau, para treinar nas águas geladas de
Florianópolis, sem ganhar nada. "Eu treinava antes de ir para a escola. Minha mãe
ficava superpreocupada", lembra.
Fabiana treina de quatro a seis horas por
dia, todo dia. Dificilmente vai para a balada. "Gostar de sair, eu gosto, mas não tenho
muito pique. Depois de uma semana puxada, preciso dormir para me recuperar."
O sono faz parte do treino, além de remadas e musculação, com um intenso trabalho de pernas. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, elas são mais utilizadas do que os braços no remo. "É como
aquela máquina que existe nas academias."
Fabiana começou a treinar com 15 anos.
"Eu ia andar de bicicleta na av. Beira-Mar e
via o pessoal remando, aí fiquei curiosa. Eu
e uma amiga que também gostava de esporte começamos a treinar juntas, depois
competimos em campeonatos estaduais."
De lá para cá, já ganhou dezenas de medalhas e troféus em várias categorias, que
decoram o seu quarto: todos os campeonatos estaduais desde 1998, todos os brasileiros desde 1999 e medalhas de ouro, prata e
bronze no Campeonato Sul-Americano
desde 2001. Na Copa do Mundo da Suíça,
de onde acabou de voltar, ficou em 11º.
Apesar de tantos prêmios, ela não tem
patrocínio. Vive com a ajuda de custo do
seu clube, estuda educação física e mora
com os pais -o pai é aposentado e a mãe,
dona-de-casa. "É difícil viver do esporte."
A amiga que começou a treinar com ela desistiu. "Os atletas do Brasil precisam ter
muita raça mesmo para chegar a uma
Olimpíada, porque a gente não tem apoio."
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