São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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ESCULTA AQUI

Bon Jovi põe em xeque a idéia de "boa música"

Com sua licença, "Escuta Aqui" vai falar de música, não do novo presidente do Brasil.
Até porque o artista que motiva a coluna de hoje é muito mais popular do que o presidente: ninguém menos do que Jon Bon Jovi!
Jamais gostei das músicas dele. Aliás, nem eu nem nenhum crítico de música do planeta. Procurei arduamente na internet e não achei uma só crítica favorável ao cara! As acusações: falta de originalidade, uso e abuso de clichês musicais, letras primárias etc. etc.
Mas passei a notar que havia algo mais no universo de Bon Jovi quando comecei a receber dezenas de e-mails de leitores (leitoras, na verdade) de "Escuta Aqui" perguntando se eu não conseguiria botá-las para dentro do show exclusivo que o cantor veio fazer no Rio, quarta-feira passada, para o "Fantástico", onde eu trabalho.
E minha simpatia por Bon Jovi -e, por extensão, por todo um ramo de rock/pop ultracomercial- aumentou ainda mais quando fui indicado para cobrir, como repórter, a apresentação dele para o "Fantástico".
É impressionante como as músicas funcionam. Desde as novas, como "Bounce", até a manjadíssima "You Give Love a Bad Name", tudo leva a platéia a um tipo de êxtase que, ao vivo, eu nunca tinha visto. E olha que já fui a mais shows de rock na minha vida do que posso contar...
OK, pode-se argumentar que só havia fãs no show carioca, e que, já convertidos (na verdade, convertidas) ao deus Jovi, só poderiam se comportar de maneira reverente.
Mas acho que não é só isso.
As canções de Bon Jovi, ao vivo, mostram exatamente as mesmas características negativas apontadas pelos críticos. Não inovam em nada, têm todo o jeito de serem escritas pelos produtores (e não pela banda). Amontoam clichê roqueiro em cima de clichê roqueiro.
Mas, se são tão presas a fórmulas manjadas, por que, então, não há mais gente fazendo igual? Por que é tão difícil escrever uma música que "pegue", que funcione? Se, como crêem os críticos, Bon Jovi não passa de um cabeludo xucro de Nova Jersey, então por que qualquer zé-mané não é capaz de fazer canções do mesmo tipo?
Infelizmente, não tenho resposta para nenhuma das perguntas. Mas acho que elas indicam de maneira dramática como críticos de música e ouvintes de "bom gosto" estão "missing the point", como se diz em inglês.
Ou seja, levantando a bola de artistas que não falam a público algum, que não comovem ninguém, perdidos em um universo auto-referente.
Vou continuar sem comprar discos do Bon Jovi, mas aprendi a respeitá-lo. Mais uma vez, o público tem razão.


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