São Paulo, segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

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Álvaro Pereira Júnior

cby2k@uol.com.br

Radiohead, ou o popular não óbvio

FAZ DEZ anos que o Radiohead lançou "OK Computer", descrito na última edição da revista inglesa "Uncut" como "um blockbuster experimental". Uma reportagem especial de oito páginas celebra a data.
Repetindo: blockbuster, aquele sucesso que arrasa quarteirões. E, ao mesmo tempo, experimental. Como assim? Quem, na época, acompanhava o Radiohead, sabia que não havia muito para onde a banda avançar dentro dos parâmetros "tradicionais" do rock. Seu álbum anterior, "The Bends", já mostrava domínio completo do formato de canções melodiosas tão característico do rock inglês. As letras, inteligentes, já falavam de claustrofobia, das cidades, de horizontes distópicos. Ou seja, Thom Yorke já era Thom Yorke (mas a produção ainda não estava 100% nas mãos de Nigel Godrich, que fez "OK Computer", o que talvez explique muita coisa).
"OK Computer" provou que era possível ir além. Que havia espaço para experimentações eletrônicas. Que as letras podiam ser ainda mais complexas. E que ser ousado não significa, necessariamente, virar as costas para o grande público.
No cinema, vejo a dupla Alejandro González Iñárritu (diretor) e Guillermo Arriaga (roteirista) como representantes da mesma vertente que não contrapõe experimentalismo a sucesso, nem complexidade a apelo popular. São deles "Amores Brutos" (2000), "21 Gramas" (2003) e "Babel" (2006).
Seus filmes têm roteiros intrincados, violentas rupturas temporais. Mas são filmados/escritos sem desprezar as emoções. Conseguem fazer do desconforto do espectador uma sensação positiva, que se traduz no desejo de querer entender histórias aparentemente desconexas.
Esse é o desafio que proponho, jovem leitor, se um dia você lidar com audiências de massa: o de ser popular sem ser óbvio, emocionar sem ser piegas, ser claro mas não didatista, ser experimental mas compreensível, buscar o novo dominando a tradição. Quem sabe um dia você componha um "OK Computer", quem sabe um dia você filme um "Babel". Estarei na platéia.

CD Player

PLAY: "BABEL", FILME///
O diretor consegue, num mesmo plano, abarcar expressões e paisagens. Não é fácil. O final poderia ser mais triste.

PLAY: "BOYS AND GIRLS IN AMERICA", THE HOLD STEADY///
Que tal um pouco de rock... adulto? Que tal um pouco de rock... americano? Que tal um pouco de rock?

EJECT: ESCUTA AQUI///
Chama-se "Myth Takes", e não "Myth Talks", como escrevi semana passada, o disco novo do !!!.


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