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Álvaro Pereira Júnior
cby2k@uol.com.br
Radiohead, ou o popular não óbvio
FAZ DEZ anos que o Radiohead lançou
"OK Computer", descrito na última edição da revista inglesa "Uncut" como
"um blockbuster experimental". Uma reportagem especial de oito páginas celebra a data.
Repetindo: blockbuster, aquele sucesso que
arrasa quarteirões. E, ao mesmo tempo, experimental. Como assim? Quem, na época,
acompanhava o Radiohead, sabia que não havia muito para onde a
banda avançar dentro dos
parâmetros "tradicionais" do rock. Seu álbum
anterior, "The Bends", já
mostrava domínio completo do formato de canções melodiosas tão característico do rock inglês. As letras, inteligentes, já falavam de claustrofobia, das cidades, de horizontes distópicos. Ou
seja, Thom Yorke já era
Thom Yorke (mas a produção ainda não estava
100% nas mãos de Nigel
Godrich, que fez "OK
Computer", o que talvez
explique muita coisa).
"OK Computer" provou que era possível ir
além. Que havia espaço
para experimentações
eletrônicas. Que as letras
podiam ser ainda mais
complexas. E que ser ousado não significa, necessariamente, virar as costas para o grande público.
No cinema, vejo a dupla Alejandro González Iñárritu
(diretor) e Guillermo Arriaga (roteirista) como representantes da mesma vertente que não contrapõe experimentalismo a sucesso, nem complexidade a apelo popular. São
deles "Amores Brutos" (2000), "21 Gramas" (2003) e "Babel" (2006).
Seus filmes têm roteiros intrincados, violentas rupturas temporais. Mas são filmados/escritos sem desprezar
as emoções. Conseguem fazer do desconforto do espectador uma sensação positiva, que se traduz no desejo de
querer entender histórias aparentemente desconexas.
Esse é o desafio que proponho, jovem leitor, se um dia
você lidar com audiências de massa: o de ser popular sem
ser óbvio, emocionar sem ser piegas, ser claro mas não didatista, ser experimental mas compreensível, buscar o
novo dominando a tradição. Quem sabe um dia você componha um "OK Computer", quem sabe um dia você filme
um "Babel". Estarei na platéia.
CD Player
PLAY: "BABEL", FILME///
O diretor consegue, num mesmo plano,
abarcar expressões e paisagens. Não é
fácil. O final poderia ser mais triste.
PLAY: "BOYS AND GIRLS IN
AMERICA", THE HOLD STEADY///
Que tal um pouco de rock... adulto? Que
tal um pouco de rock... americano? Que
tal um pouco de rock?
EJECT: ESCUTA AQUI///
Chama-se "Myth Takes", e não "Myth
Talks", como escrevi semana passada, o
disco novo do !!!.
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