São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2004

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Líder do Nirvana deixa herança que dura até hoje

O pai e os filhos do grunge

LEANDRO FORTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

No dia 5 de abril de 1994, provavelmente de manhã bem cedo, Kurt Cobain, vocalista e guitarrista do Nirvana, suicidou-se com um tiro na cabeça, em uma estufa de plantas, no andar de cima da garagem de sua casa em Seattle, no Estado de Washington (EUA).
Três dias depois, seu corpo foi encontrado por um eletricista, Gary Smith, e, poucas horas mais tarde, a notícia já era divulgada pela rádio local KXRX e logo por todo o planeta. O mundo da música nunca mais seria o mesmo.
Aos 27 anos, Kurt Cobain preferiu "queimar de uma vez a desaparecer devagar", como escreveu em sua carta de despedida, usando o trecho da música "My My, Hey Hey", de Neil Young.
Oficialmente, a banda deixou quatro álbuns, "Bleach" (1989), "Nevermind" (1991), a coletânea de raridades "Incesticide" (1992) e o derradeiro "In Utero" (1993), e mais dois póstumos, "MTV Unplugged in New York" e a coletânea "Nirvana". Mas as conseqüências de sua carreira meteórica no rock e no pop podem ser sentidas até hoje, dez anos depois, e vão muito além da fria cidade de Seattle, pois Kurt não deixou apenas uma filha, Frances Bean, mas vários filhos, artistas que devem sua existência ao legado do "pai do grunge".
Se não fosse pelo Nirvana, os artistas mais vendidos (e fatalmente os únicos lançados pelas gravadoras) ainda seriam astros do pop como o grupo U2, a família Jackson e bandas de metal "farofa" como Bon Jovi e Mötley Crüe.
Grupos como Green Day, Blink-182, Limp Bizkit e Silverchair provavelmente nunca teriam sido formados. Mesmo se tivessem, talvez nunca saíssem de suas garagens.
Até mesmo Britney Spears, Christina Aguilera e Justin Timberlake se beneficiaram da existência do Nirvana, pois o grupo criou ótimas condições para o renascimento do pop dançante estilo anos 80 -afinal, várias rádios conservadoras dos EUA não aceitavam o punk rock superbarulhento produzido em Seattle.
Não podemos esquecer duas pessoas diretamente relacionadas a Kurt. A primeira é o baterista Dave Grohl, que entrou no Nirvana depois do lançamento do primeiro disco. Não fosse por Kurt, talvez o Foo Fighters nunca tivesse embarcado em sua bem-sucedida carreira, que dura até hoje.
E não podemos esquecer, é claro, a viúva, a controversa Courtney Love, que hoje encara processos por porte de drogas sem receita médica. Acusada até de articular um suposto assassinato de Kurt, ela lançou o álbum "Live Through This", do Hole, dois dias depois de o corpo ser encontrado. Seria mera coincidência? Ela lança agora seu primeiro ábum solo, "America's Sweetheart".
Courtney é ainda responsabilizada por embaçar o lançamento da tão falada caixa do Nirvana, que deverá trazer, se um dia sair do mundo das idéias, tudo o que Kurt produziu com o Nirvana e ainda faixas de seu primeiro grupo, o Fecal Matter, quando ele tinha 18 anos, tocando ao lado de Dale Crover, baterista da banda Melvins e antigo chegado de Kurt.
Poucas pessoas tiveram acesso a esse material. Mike Ziegler, amigo de Dale, diz ter uma fita, que ele encontrou em 2000, mas espera para revelar seu conteúdo somente no lançamento da caixa.
A grande coletânea deverá trazer ainda mais duas músicas que foram feitas na mesma sessão de gravação de "You Know You're Right", faixa inédita da coletânea "Nirvana", chamadas "Butterfly" e "Skid Marks".
Vale lembrar que é preciso tomar cuidado com faixas falsas que circulam em sites de trocas de download gratuito, como é o caso de uma suposta gravação que Kurt teria feito com amigos no porão de casa, intitulada "Dough, Ray and Me".


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