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BALÃO
Quando o sangue brota das palmas das mãos
SIDNEY GUSMAN
FREE-LANCE PARA A FOLHA
No cinema, é conhecida a história de
personagens que, do nada, recebem
nas palmas das mãos os estigmas (as
marcas das chagas de Cristo). Um exemplo recente é "Stigmata", com Gabriel
Byrne, de 1999. Mas, nas HQs, o assunto
nunca teve uma abordagem marcante.
Até agora!
É o que acontece em "Estigmas" (192
páginas, R$ 34), livro dos italianos Lorenzo Mattotti e Claudio Piersanti, lançado pela Conrad Editora.
A história começa com um homem
(cujo nome não é dito no álbum) que sonha com uma criança dizendo que ele
deixaria de sofrer. Ao acordar, suas mãos
estão com grandes feridas, que sangram
muito. Após receber essa graça indesejada, sua vida se transforma. Ele passa a ser
visto como um "santo", perde o emprego e foge da cidade. Aí, encontra uma
mulher legal, casa-se com ela e resolve
ganhar uns trocados com seus estigmas,
que, castigo divino ou não, param de
sangrar pouco antes de a moça morrer.
Em meio a tantas dores, dúvidas, crueldades, alucinações e esclarecimentos, o
destaque vai para Mattotti, que está mais
para artista plástico que para quadrinhista. Seus desenhos são cheios de rabiscos em todas as direções, mas atribuem uma narrativa precisa à trama.
Numa história que é boa, porém, não é
brilhante, com o perdão do trocadilho,
seu talento é o grande estigma do álbum.
Sidney Gusman é editor-chefe do www.universohq.com
balao@folha.com.br
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