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festas
Odeio Réveillon
Falsidade, felicidade forçada, obrigação de fazer alguma coisa: jovens contam por que não curtem a data
Patricia Stavis/Folha Imagem
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Livia e Naskia acham a data triste
DÉBORA YURI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Todo mundo vestido
de branco, confraternização, espumante a rodo, rituais
de sorte como comer lentilha e pular sete ondas,
música animada, contagem regressiva para receber o novo
ano e abraços amigos à meia-noite em ponto.
Descrição da noite de Réveillon, certo? Errado. O estudante de biomedicina Egthor Souza Ramos, 19, prefere assim:
Todo mundo vestido igual,
falsidade, gente bêbada ou querendo beber de graça em festas,
simpatias bobas para dar sorte
que não mudarão a sorte de
ninguém, música irritantemente ruim, data escolhida
aleatoriamente e abraços em
gente que está pouco se importando com quem abraça.
"Eu odeio Réveillon. As pessoas vão às festas só para beber
de graça. Riquinhos e gente falsa se reúnem. Pessoas que sumiram e que você não vê há mil
anos falam que são seus amigos. Réveillon é pão e circo. E
tédio", diz Egthor.
Ele prefere passar a noite de
31 de dezembro "com os amigos verdadeiros, os de sempre".
Quando foi a festas comemorativas, usou preto. "Ficou um
monte de gente me falando:
"Você está deprimido? Pô, em
pleno Réveillon você de preto?
Você é louco?'", conta.
"Já discuti com os meus pais,
porque eu queria passar um
Réveillon sozinho em casa. Não
me incomoda ficar sozinho
nessa data", diz o estudante de
engenharia Luciano Kowalski
Casaroli, 18. "Geralmente eu
tenho que passar com os meus
pais, no meio de champanhe
estourando e gente chata falando "Feliz Ano Novo!"."
Luciano tem boas recordações da virada de ano que passou em casa, na companhia
apenas da irmã. "Ficamos no
computador, vendo TV. Não
sou extremista, não odeio o Réveillon por protesto. Só não
acho uma data importante. A
virada do ano só é virada do ano
porque a gente usa o calendário
gregoriano", diz ele.
Sua irmã, a estudante de turismo Marcele Kowalski Casaroli, 23, critica o lado comercial
e a obrigação de ser sociável, de
estar feliz e de ter muitos amigos. "Tudo fica mais caro, odeio
quem se aproveita dessa data.
Os estabelecimentos comerciais cobram preços absurdos,
e as pessoas pagam", diz ela,
que sente-se nervosa quando o
dia 31 se aproxima.
"Você fica na obrigação de fazer alguma coisa, porque todo
mundo vai fazer. Não pode
querer ficar em casa, mas é só
uma passagem de ano."
Marcele fica olhando para o
teto das 21h às 24h. Na comunidade do Orkut "Eu odeio Réveillon e Ano Novo", alguns dos
235 membros viraram anos
on-line, fazendo uma espécie
de contagem regressiva dos
que detestam a festiva data.
Dormir e comer em casa
"O ar dessa noite é carregado, negativo. As pessoas acham
que é um dia em que têm que
fazer tudo, beber, transar", diz
Gabriela Morales Diaz, 22, uma
crítica das obrigações que
acompanham o 31/12. "Não rola união familiar, e todo mundo
se sente obrigado a ser feliz."
Ela enumera outras razões
para odiar o Réveillon: a música predominante é a baiana, os
jovens ficam bêbados, acontecem acidentes nas estradas e
com fogos de artifício, o trânsito fica insuportável nas praias...
"Todo mundo vai para a praia
porque acha que tem que ir para a praia, e as praias ficam lotadas, horríveis", lamenta.
Seu namorado, o vendedor
Renato de Souza Pereira, 27,
passa Réveillon sozinho desde
os 21 anos.
"Fico em casa dormindo, comendo. Vou para a rua fazer o
quê? Ficar recebendo abraços
falsos? É um dia comum, e todo
mundo que pisou na bola com
você o ano inteiro vem desejar
felicidades", diz ele, que, na
quarta-feira, vai "aceitar" a
companhia de Gabriela.
A data irrita porque as pessoas se reúnem apenas para se reunir, sem um motivo verdadeiro, na visão de Nayara Taborda, 18. "Muita gente que não olhou pra você durante o ano lhe abraça e deseja "Feliz Ano Novo". Não dá, é muita hipocrisia e falsidade juntas", diz ela.
As amigas Naskia Dalman, 19, e Lívia Castañeda, 18, não gostam dos sentimentos que a data suscita. "É triste. As pessoas falam "Ano Novo, vida nova", mas nada muda no outro ano", diz Naskia.
"A gente sempre acha que o próximo ano vai ser melhor, mas, quando vai comparar, ele acaba sendo pior ou igual. Você faz planos, e os planos de todos geralmente dão errado. E as pessoas vestem uma máscara", concorda Lívia.
Calcinha vermelha vale
Mas nem todas as situações-símbolo do Réveillon de quem gosta da data são desprezadas por quem não gosta. Egthor, por exemplo, não suporta ficar sozinho nesse dia. "A solidão bate mais no Réveillon, ficar sozinho não rola. É depressivo demais", admite. A pior coisa, para ele? "É quando todo mundo sai, viaja, e você não tem droga nenhuma para fazer."
Lívia acha que nada supera, em termos de "pior", as simpatias que supostamente dão sorte. "É muito idiota achar que vai atrair sorte porque comeu sete uvas e pulou sete ondas", diz ela, que usa roupas pretas no Réveillon -mas sempre passa a virada de ano com uma calcinha vermelha.
"Ela precisa ser vermelha, porque eu preciso de amor nesta vida", justifica Lívia. Mas, espere, calcinha vermelha no Réveillon não é mais uma simpatia idiota? Vai entender...
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