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aventura
Volta ao mundo aos 17 anos
Zac Sunderland, dos EUA, e Mike Perham, da Inglaterra, estão rodando o planeta sozinhos, de barco, em busca de um recorde
FELIPE CARUSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No universo dos navegadores, muitos
sonham em velejar
ao redor do mundo, mas apenas um
pode ser o mais jovem a circum-navegar solitário o globo.
Esse é o título que o americano
Zac Sunderland e o inglês Michael Perham, ambos com 17
anos, estão disputando.
Zac iniciou sua viagem em 14
de junho do ano passado (quando ainda tinha 16 anos), saindo
de Los Angeles (EUA) com o
objetivo de dar uma volta ao
mundo sozinho em seu veleiro.
Cinco meses mais tarde, Michael (conhecido como Mike),
também com 16 anos à época,
saiu velejando de Southampton
(Inglaterra) com o mesmo propósito. Os dois buscam bater a
marca do australiano David
Dicks, que, em 1996, completou
uma solitária volta ao mundo
aos 18 anos e 41 dias de idade.
Nascido numa família de velejadores, desde pequeno Zac
começou a desvendar as latitudes e longitudes dos mares,
acompanhando seu pai, Laurence, um carpinteiro naval,
em viagens para Austrália, Nova Zelândia e Reino Unido.
Aos sete anos, Mike também
aprendeu a velejar com o pai,
Peter Perham, um ex-oficial de
navegação da marinha mercante inglesa. Quando tinha 14
anos, Mike fez história ao se
tornar o mais jovem velejador a
atravessar o Atlântico sozinho.
Disputa não-planejada
Os dois jovens não conheciam um ao outro até descobrirem que disputariam o mesmo
recorde, cada qual fazendo sua
viagem. Zac nasceu em 29 de
novembro de 1991 e, agora, depois de pouco mais de nove meses velejando, está iniciando a
parte final da jornada.
Mike, nascido em 16 de março de 1992, está quase chegando à metade de seu caminho.
Para estabelecer um novo recorde, não importa quanto
tempo leva a viagem, mas a idade do navegante ao retornar ao
ponto de partida.
Por ser um pouco mais novo,
Mike tem uma ligeira vantagem sobre Zac, podendo terminar a viagem até três meses e
meio depois de seu colega norte-americano.
Cada um deles traçou uma
rota de acordo com seus objetivos. Enquanto Zac está navegando em latitudes com ventos
e mares tranquilos, Mike enfrenta as tempestades e os fortes ventos das latitudes ao sul.
Depois de sair da Califórnia,
Zac parou no Havaí, atravessou
o Pacífico até as Ilhas Marshall,
seguiu rumo oeste e, no oceano
Índico, encarou a situação mais
difícil da viagem.
"A escora [peça que dá sustentação] do mastro se rompeu.
Foi uma loucura, porque eu tive que ir repetidas vezes ao
convés com o tempo ruim para
tentar controlar aquele pedaço
de metal se debatendo. Foi
muito perigoso", conta Zac, em
entrevista à Folha, por e-mail.
Em seguida, parou em diversas cidades na África do Sul,
dobrou o cabo da Boa Esperança e agora está em Santa Helena, preparando-se para cruzar
o Atlântico.
"Infelizmente, o Brasil não
vai ser uma de minhas escalas.
Eu gostaria, mas preciso me dirigir para o norte e chegar a Los
Angeles antes que a temporada
de furacões comece no Pacífico, em junho", lamenta Zac,
preparando-se para o trecho de
3.800 milhas náuticas (quase
7.000 km), um dos maiores de
sua viagem. A expectativa é de
que jornada termine em maio
ou junho próximos, pouco menos de um ano após a partida.
Passagem pelo Brasil
Já Mike, saindo da Inglaterra, parou em Portugal, nas Ilhas
Canárias e em Cabo Verde.
Aproximou-se da costa brasileira para aproveitar os ventos
alísios e cruzar o Atlântico mais
ao sul, rumo à Cidade do Cabo,
na África do Sul.
A passagem pela zona intertropical (veja o mapa ao lado),
temida pelas longas calmarias e
repentinas tempestades de
raios, foi o momento mais prazeroso para ele até agora.
"Eu tive uma corrida incrível
ao atravessar a linha do Equador. As calmarias da área não
afetaram o meu progresso. Os
golfinhos, baleias e albatrozes
foram ótimas companhias", diz
à Folha, também por e-mail.
Atualmente, Mike se aproxima da Austrália e ainda vai passar pelo cabo Horn e seguir para o Atlântico Norte, com possíveis escalas no Brasil.
Ele previa completar a viagem em quatro meses e meio,
mas problemas no barco o fizeram perder um mês parado nas
Ilhas Canárias e outro na Cidade do Cabo. Se as previsões de
Zac se mantiverem, Mike precisa terminar a viagem até outubro deste ano para vencer.
Os barcos dos aventureiros
são condizentes com o caminho que estão percorrendo.
Zac tem um barco de cruzeiro,
de 37 anos, o Intrepid (veja ficha acima), mais pesado, confortável e simples de dirigir.
Mike tem um veleiro de regata,
de 13 anos, o TotallyMoney.com, mais veloz.
Apesar das diferenças de
barco e de rota, eles têm rotinas semelhantes. A dupla dorme em turnos de 30 minutos a
uma hora, dependendo das
condições de navegação.
Seus barcos têm um radar
que fica ligado o tempo todo
quando eles estão dormindo, e
que dispara se alguma embarcação se aproxima. Comida
enlatada e desidratada é o principal cardápio dos dois.
Ambos narram suas viagens
em blogs, fazem vídeos e trazem consigo um iPod com a trilha musical da volta ao mundo.
Os velejadores solitários também levam livros e tarefas escolares a bordo, preparam um
livro sobre a viagem e juram
que não falam sozinhos.
Encontro na África do Sul
As vidas de Mike e Zac não se
cruzam apenas na semelhança
de suas histórias. No mês passado, os dois se encontraram na
Cidade do Cabo e conviveram
por um tempo. Apesar da competição, houve identificação.
"Zac é um cara legal. Nós tivemos boas conversas. Eu realmente lhe desejo o melhor na
busca de seu sonho", diz Mike.
O estadunidense, por sua
vez, encontrou uma maneira de
dividirem a importância de
suas façanhas: "Não me preocupo com o progresso do Mike.
Ele tem um barco mais veloz e é
mais novo. Seria legal ser o recordista, mas, para mim, essa
viagem sempre teve como foco
a aventura. E, como o Mike é
inglês, eu ainda serei o mais novo americano a completar a
volta ao mundo sozinho".
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