São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 2008

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Comportamento

Em harmonia com a natureza

Eles moram em comunidades que utilizam energia limpa, produzem seus alimentos e reciclam os seus resíduos; é assim a vida dos jovens nas ecovilas

Arquivo Pessoal
Laila Soares, 17, não tem nojo de lixo quando o assunto é reciclagem

LUANA VILLAC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Todas as manhãs, Laila Soares, 17, entra na internet para ver qual é a lição de casa do dia. De dentro de sua casa no interior de Goiás, feita de barro, areia e palha, ela se comunica com seus professores na Austrália e discute com outros alunos os tópicos do fórum da semana. Além das aulas convencionais, como biologia e matemática, ela estuda mitologia e a condição da mulher na sociedade. À tarde, se dedica a tocar violão, pintar ou cuidar das plantas. Duas vezes por semana, visita escolas onde dá aulas para alunos e professores com o intuito de promover a sustentabilidade.
Sustentabilidade é a capacidade de suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprir as suas. De forma mais simples, isso significa gastar menos do que a natureza consegue repor. Este é o conceito por trás das ecovilas, comunidades onde as ações sustentáveis vão muito além da reciclagem de lixo. "Eu nasci e cresci em um ambiente sustentável, isso sempre foi muito natural para mim", conta Laila.
Ela mora no Ecocentro Ipec (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado), uma ecovila a três quilômetros de Pirenópolis criada há dez anos por seu pai, brasileiro, e sua mãe, australiana. O local é um centro de referência de vida sustentável baseado na permacultura (saiba mais nas páginas seguintes), onde são ministrados cursos sobre o tema.
Atualmente, há cerca de 20 pessoas morando no local. Mas na época dos cursos o número de residentes pode subir para 150. "Recebemos gente do mundo inteiro. Estou sempre conhecendo culturas novas e fazendo novos amigos."
Mas não é só no ecocentro que Laila expande seus horizontes. Freqüentemente, acompanha os pais em trabalhos ao redor do mundo. "Por isso optamos pela escola à distância", explica. "Assim, posso viajar e continuar estudando."
A última viagem foi para o Japão, no final de maio. Ela foi uma das três estudantes brasileiras selecionadas para, junto com 36 outros jovens de 13 países diferentes, entregarem propostas sobre o meio ambiente aos representantes do G8+5 (grupo que reúne os líderes do G8 -Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos- e os dos países emergentes -África do Sul, Brasil, China, Índia e México). "Eles não esperavam uma fala tão forte. Acho que provocamos um grande impacto nos ministros."
Na ecovila onde mora Janir Coutinho Batista, 24, ecologia e espiritualidade andam de mãos dadas. Localizada no interior de São Paulo, próxima à cidade de Porangaba, a Visão Futuro -como é chamada- promove cursos e tratamentos de yoga e ayurveda, a medicina tradicional indiana.
Janir freqüenta o local desde 2004, quando fez um retiro de yoga e meditação na comunidade. "Assim que cheguei, me identifiquei com a proposta. Aqui trabalhamos a ecologia interna, dentro de cada um, e a externa", afirma.
"Fui convidado para desenvolver um projeto de educação ambiental com as crianças e acabei me mudando para cá."
Hoje, Janir se divide entre a ecovila e a cidade de Campinas, onde está concluindo uma graduação em educação física e pretende fazer mestrado em fisiologia. Mas ele garante que, se pudesse, passaria todos os dias no Visão Futuro.
Pouco afeito a baladas, ele prefere festas em volta da fogueira com os outros moradores da ecovila e garante que não sente falta de nada da cidade .
Já para Guilherme Castellari Parrillo, 15, que mora na Fazenda Demétria, comunidade próxima a Botucatu, as baladas são o que mais fazem falta no seu estilo de vida. "Às é difícil sair à noite aqui. Como a cidade é um pouco longe, meu pai não gosta de me levar", desabafa.
Tendo morado em São Paulo até os oito anos, Guilherme acredita que a vida na cidade tem suas vantagens e desvantagens. "Acho São Paulo da hora. Tem muita cultura e, se não fosse o trânsito infernal, seria um lugar maravilhoso."
Na fazenda, do que ele mais gosta é a tranqüilidade. "Ficar isolado também é bom. Aqui tem lago, cachoeira, e eu e meus amigos costumamos acampar e ficar tocando violão em volta da fogueira."
Para ele, ninguém precisa ser bicho-grilo para viver lá. "Não é porque eu moro aqui que nunca vou no Mac e não tomo Coca-Cola", afirma.
"Algumas famílias daqui são radicais, mas nós só procuramos leva uma vida mais natural do que a maioria."
Laura Teresa von Schnitzler Cabrera, 13, vizinha de Guilherme, não é uma grande freqüentadora do Mac Donald's. Em sua casa, o pão é sempre integral e a televisão não faz parte dos utensílios. "Às vezes as minhas amigas da escola falam de alguma coisa que eu não sei, mas já me acostumei."
Laura tem computador, mas garante que prefere fazer outras coisas a ficar em frente em frente à tela, como andar a cavalo, ver as vacas, nadar no lago ou visitar as amigas.
"Tenho várias colegas que moram na fazenda. Vou visitá-las de bicicleta."


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