São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2007

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02 Neurônio:

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O Pan e o vazio

Se você tem que apelar para a TV, é porque algo existe de errado

ACABOU O Pan-Americano. E, com isso, começa o nosso vazio existencial. Com vocês também é assim?
Durante as últimas duas semanas, conseguimos disfarçar todas as nossas inquietações com uma boa partida de qualquer coisa. Principalmente agora. Depois que o avião caiu e nos vimos chorando diante da TV numa quarta qualquer. Tudo podia ser acompanhado e nos "alienar": futebol, vôlei, natação e a incrível ginástica olímpica. Ou até mesmo esportes com nomes obscuros. Como badminton (vulgo jogo de peteca, sem ofensas). Ou pingue-pongue (também conhecido pelo nome chique de tênis de mesa, mas para a gente é pingue-pongue, com o maior respeito).
De repente, éramos invadidas por um surto de euforia só porque o Brasil tinha feito um ponto em qualquer modalidade de qualquer coisa. Esquecíamos todas as nossas dores de corno, nossos problemas no serviço, e isso era o melhor de tudo no nosso desespero colossal diário diante da vida.
O desespero colossal diário diante da vida existe. É algo que costumamos chamar de "faniquito existencialista pequeno-burguês" quando estamos de bem com a vida. Só que, nas últimas semanas, podíamos entretê-lo com uma partida de qualquer coisa. Era como uma novela, com a vantagem de que estava passando todo dia e toda hora. De repente, a gente, que fugiu a vida inteira de esportes no colégio, começa a gostar de squash. E fica fã da Jade, para quem aproveitamos para mandar um beijo. Ou grita: "Vai, Thiago".
Mesmo sabendo que o Pan é uma sub-olimpíada e os americanos nem mandam seus melhores atletas. Mandam os atletas classe C. E que o recordista brasileiro de natação terá pouquíssimas chances de conseguir alguma medalha na próxima Olimpíada. E que as obras do Pan foram superfaturadas. E que quem tentou comprar ingresso não conseguiu. Mas nada se compara a adiar os problemas e as crises. Mesmo que você tenha que ver a final do vôlei de praia de madrugada num bar, no sábado à noite.

Momento de histeria

Se você tem que apelar para a TV, é porque algo existe de errado


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