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02 Neurônio:
>>Jô Hallack >>Nina Lemos >>Raq Affonso -
02neuronio@uol.com.br
O Pan e o vazio
Se você tem que apelar para a TV, é porque algo existe de errado
ACABOU O Pan-Americano. E, com isso,
começa o nosso vazio existencial. Com
vocês também é assim?
Durante as últimas duas semanas, conseguimos disfarçar todas as nossas inquietações
com uma boa partida de qualquer coisa. Principalmente agora. Depois que o avião caiu e
nos vimos chorando diante da TV numa quarta qualquer. Tudo podia ser acompanhado e
nos "alienar": futebol, vôlei, natação e a incrível ginástica olímpica. Ou até mesmo esportes
com nomes obscuros. Como badminton (vulgo jogo de
peteca, sem ofensas). Ou pingue-pongue (também conhecido pelo nome chique de tênis de mesa, mas para a
gente é pingue-pongue, com o maior respeito).
De repente, éramos invadidas por um surto de euforia
só porque o Brasil tinha feito um ponto em qualquer
modalidade de qualquer coisa. Esquecíamos todas as
nossas dores de corno, nossos problemas no serviço, e isso era o melhor de tudo no nosso desespero colossal diário diante da vida.
O desespero colossal
diário diante da vida
existe. É algo que costumamos chamar de
"faniquito existencialista pequeno-burguês"
quando estamos de
bem com a vida. Só que,
nas últimas semanas,
podíamos entretê-lo
com uma partida de
qualquer coisa. Era como uma novela, com a
vantagem de que estava passando todo dia e
toda hora. De repente,
a gente, que fugiu a vida
inteira de esportes no
colégio, começa a gostar de squash. E fica fã da Jade, para quem aproveitamos
para mandar um beijo. Ou grita: "Vai, Thiago".
Mesmo sabendo que o Pan é uma sub-olimpíada e os
americanos nem mandam seus melhores atletas. Mandam os atletas classe C. E que o recordista brasileiro de natação terá pouquíssimas chances de conseguir alguma medalha na próxima Olimpíada. E que as obras do
Pan foram superfaturadas. E que quem tentou comprar
ingresso não conseguiu. Mas nada se compara a adiar os
problemas e as crises. Mesmo que você tenha que ver a
final do vôlei de praia de madrugada num bar, no sábado
à noite.
Momento de histeria
Se você tem que apelar para a TV, é porque algo existe de errado
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