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BALÃO
Cidade dos sonhos
DIEGO ASSIS
Há um ano, esta coluna começava com um sonho.
Um sujeito acordava, buscava o jornal e, voilá, todas as
imagens do diário se transformaram em quadrinhos. Na última quinta, essa
visão se concretizou: ao comprar uma cópia do
jornal francês "Libération" lá estavam diversos
quadrinistas substituindo as fotografias daquela
edição (Art Spiegelman, por exemplo, ilustrava
uma reportagem sobre os 60 anos da liberação
do campo de Auschwitz). Era véspera da abertura do 32º Festival International de la Bande Dessinée de Angoulême, o maior acontecimento do
mundo dos quadrinhos de que se tem notícia.
O sonho não acabou. Corri atrás dele e escrevo
diretamente de Angoulême, uma pequena cidade ao norte da França. Para quem chega, depois
de atravessar quilômetros e quilômetros de natureza e de terras quase inabitadas, é difícil de
acreditar: durante os três dias do festival, que
acabou ontem, Angoulême "é", ela própria,
uma história em quadrinhos. No lugar dos
anúncios de celular e creme dental, os ônibus
são adesivados com HQs, nos muros das igrejas
e construções antigas, os grafites são em quadrinhos; na vitrine de uma loja de doces, álbuns de
"Tintin", "Lucky Luke" e "Titeuf" compõem a
decoração; exposições dividem o espaço de escolas, bares e restaurantes; livrarias e sebos
aproveitam e, pelo menos por ora, ocupam o lugar dos best-sellers de auto-ajuda
com as graphic novels do momento -poderia citar "Panorama do
Inferno" (Hideshi Hino), "Louis
Riel" (Chester Brown), "Poulet
aux Prunes" (nova obra de Marjane Satrapi), "Blankets" (Craig
Thompson) e "Love My Life" (Yamagi), todos candidatos a prêmios
no festival.
Nos stands dos centros de convenção, centenas de novas revistas
e fanzines de todo o mundo dividem espaço com originais à venda
assinados por artistas como Milo
Manara, Hugo Pratt, Carl Barks,
Chris Ware e Johnny Ryan. Assim
é Angoulême. Não me belisquem
ainda, por favor.
balao@folha.com.br
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