|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
música
Prodígio, não!
O pianista Vitor Araújo, 18, faz sua
estréia com um DVD ao vivo em que traz releituras de Radiohead, Villa-Lobos e Tom Zé
JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Ele está na faculdade,
tem uma namorada
e faz outras coisas
que qualquer jovem
de 18 anos faz. Mas
nenhuma outra pessoa da sua
idade tem na agenda de compromissos uma apresentação
no festival Abril pro Rock e outra no Auditório Ibirapuera.
Sim, Vitor Barros Barbosa de
Araújo é o mais novo prodígio
da música a ver os holofotes.
Mesma gravadora de Pitty e
Cachorro Grande, a Deckdisc
lança o primeiro trabalho do
pianista recifense nesta semana. "TOC Ao Vivo no Teatro de
Santa Isabel" é um dual disc:
CD de um lado, DVD do outro.
E em abril mesmo Vitor Araújo
começa a divulgar o produto,
com os shows supracitados,
mais uma participação na Virada Cultural de São Paulo, entre
outros compromissos.
Ser chamado de prodígio é algo que ele detesta. "Fico incomodado quando as pessoas levam em conta minha faixa etária na hora de apreciar o que faço. Ainda sou muito imaturo
tecnicamente. Muitos pianistas da minha idade tocam melhor do que eu", diz o humilde
instrumentista, que começou a
estudar música aos 9 anos e hoje cursa bacharelado em piano
na Universidade Federal de
Pernambuco (pensa em se formar em história depois).
O que impressiona em seu
trabalho não é exatamente o
apuro técnico, mas a categoria
com que gêneros distintos são
embaralhados. Filho de um pai roqueiro, ele cresceu ouvindo
discos do Pink Floyd e de Chico
Science & Nação Zumbi. Quando começou a estudar piano,
conheceu compositores como
Bach e Chopin. Paralelamente,
foi descobrindo a MPB e o jazz.
Esse interesse múltiplo fica
explícito em "TOC". Vitor tanto se dedica a peças de eruditos
como Villa-Lobos e Edino Krieger, como passeia pela música
de Tom Zé e Luiz Gonzaga. O
CD traz também sua interpretação de um tema escrito pelo
francês Yann Tiersen para o filme "O Fabuloso Destino de
Amélie Poulain" e uma sublime
releitura de "Paranoid Android", dos ingleses do Radiohead (dá para conferir as duas
em www.myspace.com/vitoraraujo). Vitor imagina que Beethoven curtiria a banda de
Thom Yorke caso vivesse em
nossos tempos.
Além da carreira solo, o pianista toca versões modernas de
Chico Buarque na banda Seu
Chico e funde tango e jazz com
o trio Café del Jazz.
A irreverência, porém, o
acompanha em qualquer palco.
Na primeira cena do DVD, Vitor entra em cena vagarosamente, depois dá um salto e
aterrissa com seu tênis em cima das teclas do piano. Batuques na parte interna do instrumento são uma constante em suas performances. O jeito
remete ao do inglês Jamie Cullum, de quem o pernambucano se declara fã.
"Não toco nem faço nada que
meu coração não mande. Antes
de tocar, sinto um frio na barriga. Durante, vou a outro lugar,
que não sei dizer qual é. Depois, vem um gosto de Leite
Moça na boca", explica.
Nesta quinta-feira, dia 3, o
leite condensado baterá em seu
paladar numa apresentação fechada para imprensa e para outros "formadores de opinião"
na casa paulistana Tom Jazz.
No dia 12, é a vez do recital
no meio da barulhenta programação do Abril Pro Rock, em
sua cidade natal. O concerto no
imponente Auditório Ibirapuera rola no dia 27, e os ingressos
já estão à venda por R$ 30.
Texto Anterior: Programação vestibular e leitura - é grátis Próximo Texto: Eles também começaram adolescentes Índice
|