São Paulo, segunda-feira, 31 de março de 2008

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música

Prodígio, não!

O pianista Vitor Araújo, 18, faz sua estréia com um DVD ao vivo em que traz releituras de Radiohead, Villa-Lobos e Tom Zé

JOSÉ FLÁVIO JÚNIOR
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ele está na faculdade, tem uma namorada e faz outras coisas que qualquer jovem de 18 anos faz. Mas nenhuma outra pessoa da sua idade tem na agenda de compromissos uma apresentação no festival Abril pro Rock e outra no Auditório Ibirapuera. Sim, Vitor Barros Barbosa de Araújo é o mais novo prodígio da música a ver os holofotes.
Mesma gravadora de Pitty e Cachorro Grande, a Deckdisc lança o primeiro trabalho do pianista recifense nesta semana. "TOC Ao Vivo no Teatro de Santa Isabel" é um dual disc: CD de um lado, DVD do outro. E em abril mesmo Vitor Araújo começa a divulgar o produto, com os shows supracitados, mais uma participação na Virada Cultural de São Paulo, entre outros compromissos.
Ser chamado de prodígio é algo que ele detesta. "Fico incomodado quando as pessoas levam em conta minha faixa etária na hora de apreciar o que faço. Ainda sou muito imaturo tecnicamente. Muitos pianistas da minha idade tocam melhor do que eu", diz o humilde instrumentista, que começou a estudar música aos 9 anos e hoje cursa bacharelado em piano na Universidade Federal de Pernambuco (pensa em se formar em história depois).
O que impressiona em seu trabalho não é exatamente o apuro técnico, mas a categoria com que gêneros distintos são embaralhados. Filho de um pai roqueiro, ele cresceu ouvindo discos do Pink Floyd e de Chico Science & Nação Zumbi. Quando começou a estudar piano, conheceu compositores como Bach e Chopin. Paralelamente, foi descobrindo a MPB e o jazz.
Esse interesse múltiplo fica explícito em "TOC". Vitor tanto se dedica a peças de eruditos como Villa-Lobos e Edino Krieger, como passeia pela música de Tom Zé e Luiz Gonzaga. O CD traz também sua interpretação de um tema escrito pelo francês Yann Tiersen para o filme "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" e uma sublime releitura de "Paranoid Android", dos ingleses do Radiohead (dá para conferir as duas em www.myspace.com/vitoraraujo). Vitor imagina que Beethoven curtiria a banda de Thom Yorke caso vivesse em nossos tempos.
Além da carreira solo, o pianista toca versões modernas de Chico Buarque na banda Seu Chico e funde tango e jazz com o trio Café del Jazz.
A irreverência, porém, o acompanha em qualquer palco. Na primeira cena do DVD, Vitor entra em cena vagarosamente, depois dá um salto e aterrissa com seu tênis em cima das teclas do piano. Batuques na parte interna do instrumento são uma constante em suas performances. O jeito remete ao do inglês Jamie Cullum, de quem o pernambucano se declara fã.
"Não toco nem faço nada que meu coração não mande. Antes de tocar, sinto um frio na barriga. Durante, vou a outro lugar, que não sei dizer qual é. Depois, vem um gosto de Leite Moça na boca", explica.
Nesta quinta-feira, dia 3, o leite condensado baterá em seu paladar numa apresentação fechada para imprensa e para outros "formadores de opinião" na casa paulistana Tom Jazz.
No dia 12, é a vez do recital no meio da barulhenta programação do Abril Pro Rock, em sua cidade natal. O concerto no imponente Auditório Ibirapuera rola no dia 27, e os ingressos já estão à venda por R$ 30.


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