São Paulo, segunda-feira, 31 de julho de 2000


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Gravadoras combatem Napster, dominam rádios, e mantêm tudo como está

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

COLUNISTA DA FOLHA

É total a semelhança entre o que está acontecendo com a empresa que criou o programa Napster, massacrada numa corte dos EUA, e a burocrática programação das rádios brasileiras e americanas. Nos dois casos, temos a ação de uma mesma indústria, covarde e gananciosa: a indústria das grandes gravadoras.
Covarde porque se apavora diante de qualquer novidade que não surja sob suas asas, seja um programa que permite a livre troca musical na Internet, como o Napster, sejam bandas independentes ou pequenos selos que funcionam em esquema de guerrilha.
E gananciosa porque cobra preços estratosféricos por um produto, o CD, que está fadado à morte em curto prazo, mas ao qual as corporações musicais se agarram como a uma tábua de salvação.
Para a indústria cega, é mais fácil entrar na Justiça e fechar o Napster (como uma juíza de San Francisco determinou na semana passada) do que tentar entender por que um simples programa de computador atraiu 15 milhões de usuários em pouco mais de um ano.
Talvez fosse uma boa oportunidade para refletir sobre a maneira como a música chega hoje ao público consumidor. Pensar em novas formas de intermediação, rever preços, abrir os olhos para uma nova onda tecnológica. Mas não. A escolha é por jogar pesado nos tribunais e manter tudo como está.
E é mantendo tudo como está que também operam as grandes rádios de países como EUA e Brasil.
Só pode ser piada o argumento de que a programação das rádios apenas reflete o gosto popular e de que não passa de "coincidência" diferentes estações tocarem a mesma música no mesmo instante. Claro que a maioria das pessoas compra CDs de artistas que já escutou... no rádio. E quem manda nas rádios são as gravadoras.
A ordem: é proibido arriscar. Impera o formato Top 40, criado nos EUA, e que consiste, basicamente, em martelar as mesmas 40 músicas o dia todo.
Fenômenos como o Napster abrem pequenas brechas nesse monólito, assim como uma banda independente que vende muito, como os Racionais MC's. Pena que a indústria não se digne a entender esses fenômenos e até a lucrar com eles. Escolhe o caminho mais cômodo. No caso das gravadoras, apelando aos tribunais contra o Napster. Já as rádios fazem de conta que Racionais e outros não existem, porque está na hora de tocar mais uma faixa acústica de alguma múmia do rock nacional.


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