Dois e um
Conheça crianças que nasceram de uma 'produção independente', em que a mãe decide ter filho sozinha
Assim que chegou da escola, Rafael, 3, perguntou: "Mãe, o que é Dia dos Pais?".
A dúvida surgiu porque ele vive em um modelo de família que poderá ser cada vez mais comum --a de mães que decidiram ter um filho sozinhas, sem um pai.
A chamada "produção independente" é possível com a ajuda da ciência. O método mais comum para a mulher ficar grávida nesses casos é a fertilização in vitro, que usa células doadas por um homem (veja na pág. 3).
Não é que a criança não tenha pai: o doador é o pai biológico dela. Mas a mãe e a criança não saberão quem é essa pessoa --a lei não permite que o laboratório revele. Nem o doador sabe para quem suas células foram doadas. Dessa forma, ele não fará parte da família nem exercerá o papel paterno.
Lilian Gouvea, 50, mãe de Rafael, explicou para ele o que é Dia dos Pais: "É uma data para filhos e pais comemorarem. Como você não tem um, festejamos nós dois." Ela leva o filho para a escola, às aulas de natação, prepara a comida, ajuda no banho, faz tudo.
Para Belinda Mandelbaum, do Instituto de Psicologia da USP, é importante que uma criança como Rafael tenha relações próximas também com outras pessoas. "Precisa desenvolver outros vínculos e não ficar em uma 'bolha' materna. Geralmente, o pai faz esse papel. Sem ele, outras pessoas devem fazer isso, como avós, tios e padrinhos", opina.