São Paulo, sábado, 2 de fevereiro de 2013

CAFUNÉ

Enquanto dorme

CLARICE REICHSTUL
COLUNISTA DA FOLHA

Chego de manhã cedinho, às cinco da matina. Subo as escadas com cuidado para não fazer barulho e entro no quarto do Benjamim para vê-lo dormir. Já estou há seis dias longe de casa, e o telefone não serve para aliviar a saudade. Nesses telefonemas, ele faz pouco caso, não quer falar comigo ou está muito ocupado com outra coisa.
Fico com o meu coração de mãe apertado. Mas vou fazer o quê? O cara tem razão de não falar ou de me ignorar. Afinal, a dona mãe está longe, trabalhando numa coisa que ele não entende direito e que deve ser bem chata. Até tento fazê-lo entender no começo, mas o esforço é em vão.
Entro no quarto e vejo o menino que não é mais bebê ressonando suavemente, quente na cama, abraçado em seu carneirinho de brinquedo. Quando olhamos para nossos filhos adormecidos, nossos corações se enchem de uma ternura inexplicável.
É como se vocês fossem sempre anjos de bondade, não fizessem birra na entrada do cinema, comessem toda a salada sem reclamar e não insistissem em assistir à TV a toda hora.
Ao verem vocês adormecidos, pais ficam felizes e agradecidos por sua existência, não se enganem. Mesmo naqueles dias em que tudo está azedo, os humores ariscos e as brigas à flor da pele, é só vocês caírem no sono que vamos lá espreitar, guardar e nos parabenizar pela lindeza de filhos que colocamos no mundo.
É bem piegas, mas é a pura verdade!

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