São Paulo, sábado, 6 de abril de 2013

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Ordem na casa

Lei cria novas regras para o trabalho de domésticas, que costumam ter muita convivência com as crianças de onde trabalham

BRUNO MOLINERO
DE SÃO PAULO

Todo dia, ao chegar da escola, Rocco Luiz Goulart, 8, faz o dever de casa. Não importa se a lição é de matemática, geografia ou português, Marly Moreira, 52, empregada doméstica na casa do garoto há nove anos, sempre se senta ao lado dele para ajudar.
"Marly, é para fazer conta de mais ou de menos?", pergunta Rocco. Com paciência de professora, ela ensina a resolver o problema.
O dia de Marly começa bem mais cedo. Ela acorda Rocco e sua irmã, Yasmin, 11, às 6h, faz o lanche da dupla, organiza a casa, prepara a comida e, no fim do dia, ainda ouve os problemas deles e os coloca para dormir. Só depois dessa maratona é que vai descansar em seu quarto, que não fica muito longe: ela dorme na casa onde trabalha.
"A Marly nunca vai embora. Quando eu tiver minha própria casa, ela vai morar comigo", diz Rocco.
Como atualmente muitos pais e mães trabalham fora, profissionais como Marly costumam ter uma grande convivência com as crianças. Eles veem os filhos dos empregadores crescerem e muitas vezes vão com a família até para as viagens de férias.
É comum surgir entre empregados e crianças uma relação que vai além da profissional.

NOVA LEI
Rotinas como a de Marly terão de mudar por determinação de uma nova lei, aprovada nesta semana, que dá mais direitos a empregados domésticos.
Os profissionais devem trabalhar até oito horas por dia (podem passar duas horas desse limite, mas devem ganhar mais por isso).
"Não vou cobrar. Fico além do meu horário porque gosto", diz Maria Diomar dos Santos, 45, que trabalha há três anos na casa de Helena Aragaki, 5.
"Às vezes ela me busca na escola e a gente passa o resto do dia brincando", diz a menina. "Mas ela briga comigo mais do que meus pais. Hoje me colocou de castigo porque rasguei a roupa na escola."
Maria explica as broncas segurando um porta-retratos com a foto de Helena e de seus pais. "É minha família também. Helena é como se fosse minha filha."


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