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Sotaques em jogo Brincadeiras ganham nomes diferentes nos países da fronteira MARLENE PERET ENVIADA ESPECIAL A BARRA DO QUARAÍ Na tríplice fronteira entre Brasil, Uruguai e Argentina, o brincar tem território próprio. Mesmo com língua "enrolada", as brincadeiras são as mesmas nos três países. "Muñecas", no espanhol, são bonecas, "el trompa" é o pião e "rayuela", a sapata (ou amarelinha). Em Barra do Quaraí, a 717 km de Porto Alegre (RS), Manuele Morais, 6, brinca às margens do rio Quaraí. Sobre o rio está uma ponte longa que liga Brasil e Uruguai. Além de cartão-postal da cidade, o local é ponto de encontro para inúmeras brincadeiras, como pega-cola, variação do pega-pega. Os adultos dizem que Barra do Quaraí é o fim do país. Já Manuele afirma convictamente ser o começo. "O Brasil começa aqui, depois vai subindo e crescendo." E a guria completa: "Aqui se fala o brasileiro. No Uruguai, o uruguaio e, na Argentina, o argentino. Eles falam enrolado demais". Mas os costumes se misturam no chão da fronteira, onde brincar ocorre mais tarde por causa da "siesta", hábito espanhol de descansar após o almoço. AMARELINHA DE CARVÃO Quando Manuele não está refrescando seus pés descalços no rio Quaraí, está em casa, na Vila Popular. No quintal, a sapata é riscada com o carvão (veja foto abaixo), o mesmo que faz pratos gaúchos como arroz carreteiro ou churrasco. Quando todos se reúnem próximo a um campinho de futebol, meninos e meninas de variadas idades pulam corda. Se alguém erra, o outro grita: "Vaza, guri". E basta uma trégua para que a corda vire um disputado cabo de guerra entre a turma. BARRA DO QUARAÍ (RS) Com poucos carros nas ruas, crianças brincam tranquilas. É voltada à agricultura e à pecuária. TRUQUE DA CASA Em Bella Unión (Uruguai), Valentina brinca de amarelinhas com desenhos diferentes. Tem um truque: para jogar a pedra nas casas 5 e 6, pode pisar na risca da casa 2 ou 3. Coloca um pé após o outro enquanto fala as sílabas da palavra "casa". Assim, terá mais chance de acertar. ARROZ COM LEITE A uruguaia Valentina Pereira, 8, de Bella Unión, e a argentina Ludimila Ramos, 8, de Monte Caseros, vivem separadas pelo rio Uruguai e não se conhecem. Mas, ao saltar a "cuerda" (corda), Ludmila canta a mesma música entoada na brincadeira de roda de Valentina -"Arroz con Leche". METADE BRASILEIRO, METADE URUGUAIO Kevyn Leandro de Melo, 7, Manuele Morais, 6, e Francine Morais, 8, brincam no rio Quaraí ou "Cuareim" (em espanhol), limite das cidades de Barra do Quaraí (RS) e Bella Unión (Uruguai). Eles dizem que metade do rio é do Brasil e a outra metade, do Uruguai. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice |
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