São Paulo, sábado, 18 de agosto de 2012

capa

Cativeiro selvagem

Zoológico mineiro e Aquário de SP dificultam a vida dos animais para que fiquem mais espertos

DE SÃO PAULO

No Zoológico de Belo Horizonte, os funcionários cobrem um cavalinho de pau com pelos de lhama e de camelo. O bicho de mentira, com um pedaço de carne de verdade nas costas, é colocado dentro da jaula do leão.
A fera pensa estar diante de uma presa, ataca o cavalo de pau rugindo e come a carne. Essa foi uma das mudanças implementadas pelo zoo para incentivar os bichos a se comportarem como na natureza.
Antes, a carne era atirada ao leão, que, sem esforço, comia e voltava a descansar. Agora, como na selva, ele precisa "caçar". O zoológico também coloca baldes com água e frutas no congelador para fazer "picolés" gigantes e dar ao elefante. O bicho, que recebia a fruta picadinha, passou a gastar um tempo para arrancá-la do gelo.
Atividades desse tipo são desenvolvidas no zoo mineiro para dificultar a vida deles, mas não é por mal. Cynthia Cipreste, bióloga responsável pela área de bem-estar animal dessa instituição, diz que procura "acrescentar um pouco de imprevisibilidade ao ambiente do animal".
Imprevisibilidade é algo que o bicho não espera. Na natureza, eles lidam com situações inesperadas o tempo inteiro e têm que usar as garras, o bico, os dentes e a inteligência para matar a fome.
Apresentar a comida de várias maneiras estimula essas habilidades e ainda os obriga a se movimentar. Ficar paradão também não é bom para os animais.
No Aquário de São Paulo, os jacarés recebem até chuva artificial para lembrar a vida lá fora. As mudanças também chegaram para os tubarões, os cavalos-marinhos e os morcegos gigantes.
(ANDRÉA LEMOS)

CORES E MOVIMENTO

1- Cavalos-marinhos costumam nadar e se enroscar em algas e pedras. Os do Aquário de São Paulo ficavam muito tempo parados no fundo do tanque.
2- Correntes de miçangas coloridas foram fixadas no aquário para imitar as algas. Comida passou a ser colocada dentro de bolas com furos.
3- Hoje os bichos estão mais agitados. Ocupam o tempo tentando fazer a refeição sair da bola e, além disso, interagem com as miçangas. Perto delas, chegam a mudar de cor, o que mostra que eles gostam da "brincadeira".

TUBARÃO AMIGO?
Os tubarões do Aquário de São Paulo, que passam em um teto de vidro por cima do público, foram treinados. Os tratadores davam comida sempre que eles encostavam em uma placa na borda do tanque. Agora, ao ver a placa, eles se aproximam e podem ser examinados.

ENCONTROS APAIXONADOS

1- Os morcegos do Aquário de São Paulo voavam pouco, e machos e fêmeas não se misturavam. Corriam o risco de ficar obesos e de prejudicar as asas.

2- Funcionários passaram a treiná-los para abrir as asas (foto acima). O tratador dizia a palavra 'asa', e, se o morcego movimentasse as asas, recebia comida como recompensa. A cada treino, os bichos conseguiam abrir mais as asas. Hoje, elas já ficam totalmente esticadas e têm quase dois metros de comprimento!

3- Os morcegos começaram a voar mais. Foi assim que Vladi encontrou Clarinha e Carequinha conheceu Flor. De lá para cá, já fizeram cinco filhotes.

Trabalho é criticado por aceitar os bichos presos

Investir em zoológicos não é uma forma de incentivar que animais continuem presos? Essa é uma das perguntas que a veterinária Cristiane Pizzutto ouve com frequência em suas palestras. Tem muita gente que critica a ideia de enriquecimento ambiental porque acha que esse trabalho ajuda a manter animais presos em espaços artificiais, em vez de colaborar para que sejam soltos na natureza. Cristiane responde: "Não dá para a gente acabar com todos os zoológicos do mundo. Já que os animais não vão ser reintroduzidos na natureza, acho que vale a pena fazer o possível para melhorar a vida deles nestes locais."

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Folha Online. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página
em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folha Online.