Fotos Victor Moriyama/Folhapress

Letícia, 4, entrou na sala e foi correndo pegar a boneca Dentinho. Giseli, 3, queria o mesmo brinquedo. Tentou arrancá-la de Letícia. Não conseguiu.
Fillipi, 4, também estava na brinquedoteca, com prateleiras cheias de bonecas e bonecos, carrinhos, jogos e instrumentos musicais. Ele pegou um quebra-cabeça na estante, mas logo voltou sua atenção para uma caixa colorida e cheia de peças de montar.
Todos os movimentos das crianças eram observados por adultos, que faziam anotações em fichas. Parecia até um "Big Brother" (programa de TV em que pessoas ficam dentro de uma casa cheia de câmeras). Na verdade, era um teste de produtos feito pela Abrinq, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos.
Letícia, Giseli, Fillipi e outras 106 crianças da creche Bem-Te-Vi, no Jabaquara (em São Paulo), participam do teste de brinquedos e jogos lançados em 2012, realizado também em mais duas instituições parceiras da Abrinq. Os pais são informados da experiência, que envolve, neste ano, 449 meninos e meninas ao todo. Quando as avaliações terminam, as instituições ganham os brinquedos.
Enquanto a turma se diverte, os educadores prestam atenção à forma como cada um brinca. Observam o que as crianças fazem, o que mais as atrai e o que deixam de lado.
Essas informações são úteis para os fabricantes saberem, por exemplo, do que as crianças gostam ou não e para que idade o brinquedo é adequado.
Neste ano, cerca de 60 brinquedos foram escolhidos por diferentes fabricantes para o teste. Os aprovados pelas crianças e pela equipe de educadores da Abrinq entrarão para o Guia de Brinquedos e Jogos 2012/2013, que será lançado até dezembro e ficará no site abrinquedoteca.com.br.

Manual? 'Eu já sei o que a boneca faz'

Manual para quê? "Eu já sei o que a boneca faz", disse Letícia ao ver um manual de instruções pendurado na boneca. Eloá Gonçalves, diretora da creche Bem-Te-Vi, diz que as crianças fazem o que querem com brinquedos, desde pô-los na boca até mergulhá-los na água. Por isso, os avaliadores da Abrinq também testam os produtos antes de passá-los para as creches e escolas. Verificam desde a embalagem (se possui informações para orientar o consumidor e se é adequada ao produto) até a qualidade do material e o funcionamento do brinquedo. Se algo estiver errado, informam ao fabricante e não enviam os brinquedos às crianças.
(AL)

DE OLHO
O que os avaliadores observam na hora em que as crianças testam os brinquedos

1- INTERESSE
As crianças brincam com o brinquedo? Quanto tempo passam com ele?

2- ATRAÇÃO
O que chama a atenção? Tamanho, cor, som, luz?

3- HABILIDADE
Para brincar, a criança tem que ter força, encaixar peças, entender regras?

4- IDADE
Peças são pequenas ou pontiagudas? Oferecem risco? A criança entende como o brinquedo funciona?

5- DESENVOLVIMENTO
O brinquedo ajuda a desenvolver habilidades e a criatividade? As crianças brincam juntas ou sozinhas?

Não é brinquedo, não...

DE SÃO PAULO

O teste da Abrinq do qual as crianças participam dá direito às empresas de usar o selo "Destaques do Ano" na caixa dos brinquedos. Mas ele não é obrigatório no Brasil, como o do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que verifica se o brinquedo é seguro.
O selo do Inmetro certifica que o brinquedo foi aprovado em uma bateria de testes, como o de impacto (se suporta peso, queda e mordida) e de qualidade do material (verifica se é feito com algo que possa fazer mal ou queimar).
Brinquedos também seguem manuais internacionais. Quando uma fábrica determina na embalagem para que idade o brinquedo é adequado, precisa responder a perguntas como: 1) Nessa idade, a criança consegue brincar com esse produto?; 2) Entende como funciona?; 3) Ela se interessa por ele?
Pelo visto, a "vida" dos brinquedos não é brincadeira...
(AL)

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