São Paulo, sábado, 21 de abril de 2012

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Poder cuequento

Capitão Cueca vira fenômeno ao mostrar que falar 'pum' e 'cocô' é natural

GABRIELLA MANCINI
DE SÃO PAULO

Quando se pensa em super-herói, imagina-se um sujeito fortão, com roupa especial e atitude exemplar. Nada do que o Capitão Cueca é. Criado pelo norte-americano Dav Pilkey, 46, o personagem usa só cueca, é atrapalhado e tem "poderes cuequentos": sua "arma" é a cueca, que serve de estilingue, rede, algema...
Pilkey criou dois garotos, os capetinhas Jorge e Haroldo, que, no livro, inventam histórias em quadrinhos do Capitão. A dupla hipnotiza o malvado diretor da escola, senhor Krupp, e o transforma no herói cuequento.
Esse herói, na verdade, está mais para anti-herói. Como explica Maria Zilda da Cunha, professora-doutora de literatura da USP, "anti-herói é aquele trapalhão que, por acaso, está lá quando precisam dele." E completa: "Acaba servindo ao bem, mesmo fazendo coisas erradas".
Jorge e Haroldo também são anti-heróis, além de politicamente incorretos, ou seja, não são nada certinhos. E fazem piada com isso, como quando inventam, por exemplo, o robô urinol, de xixi. "Nunca deixarão a gente fazer isso em um livro infantil!", diz Haroldo. Para piorar, escrevem errado, trapaceiam e abusam de palavras como bumbum, catarro, meleca... para alegria das crianças.
Enrico Gorios, 10, leu toda a série. "É engraçado um herói que só usa cueca. As histórias misturam ação e comédia, até os vilões são divertidos." Entre os malvados, há uma privada falante, um xerife feito de fezes, robôs melequentos e uma fralda suja!
A coleção fez tanto sucesso que já rendeu nove livros, foi traduzida para 27 idiomas e vendeu 38 milhões de exemplares no mundo. E, em 2013, vai virar filme da Dreamworks (mesma produtora de "Shrek").

CERTO OU ERRADO?
Pilkey teve a ideia da série quando uma professora disse a palavra "cueca" e os alunos caíram na risada.
E por que será que crianças riem tanto de palavras escatológicas (relacionadas ao que sai do corpo, como cocô e xixi)? Luciene Tognetta, pesquisadora da Unicamp, acha que o riso vem por serem palavras "proibidas". "O autor coloca em discussão o que é certo ou errado na sociedade. Mostra que falar 'cocô' e 'pum' não tem tanta importância, é natural entre as crianças." E elogia: "Que bom que elas estão criticando as regras".

FRALDINHA VERSUS XIXI
Não deve ser fácil enfrentar uma enorme poça de xixi! Mas é ela a vilã do novo livro de Jorge e Haroldo, "Super Bebê Fraldinha 2: A Invasão dos Ladrões de Penico" (Cosac Naify; R$ 29,90), lançado em abril. Inclui o tradicional "vire-o-game": você move as páginas rapidamente e os desenhos parecem se mexer, como numa animação.

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