São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2012

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Passo firme

Crianças cegas superam medo e dificuldade para andar com a ajuda de esportes e da dança

Joel Silva/ Folhapress
Com o balé, Poliana, 7, que não enxerga, ficou mais segura para andar

GABRIELA MANCINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Poliana de Abreu Brito, 7, chorava muito quando saía de casa, assustada com barulhos e movimentos. João Eduardo Jansen, 11, não podia chegar perto de animais e vivia com as costas curvadas. Pedro Bola, 7, tinha medo de andar e de tocar em objetos.
Os três, cegos desde o nascimento, superaram as dificuldades com atividades como equoterapia (terapia com cavalo), natação e balé. Crianças cegas, claro, precisam de ajuda no dia a dia. Mas os esportes e a dança conseguem deixá-las mais seguras, inclusive para tentar se virar sozinhas. "Ela andava curvada e insegura, mesmo com a bengala [que usa para se guiar quando anda e descobrir se há algum obstáculo à frente]. Isso mudou desde que entrou no balé, há dois anos. Agora tem gente que pensa que ela enxerga!", conta Izabel, mãe de Poliana.
Assim como em outras atividades, o toque é o segredo para aprender os passos do balé. Poliana passa as mãos no corpo da professora para entender as posições. E a professora vai "moldando" o corpo da menina -dobra a perna, os braços, puxa mais para um lado, para outro etc.
João Eduardo e Pedro ganharam uma postura melhor e segurança para caminhar na equoterapia. "O cavalo joga o quadril do cavaleiro para todos os lados, o que é bom para a coordenação motora", diz a psicopedagoga e psicanalista Liana Pires Santos.
O deficiente visual pode ter a postura curvada, por medo de bater em algo no caminho. Com a equoterapia, passa a andar com a coluna mais reta e a cabeça mais erguida. "E ganha confiança e autoestima [sente-se uma pessoa melhor] por conseguir dominar o cavalo", completa Liana.
"Adoro quando desço do cavalo e pego a rédea pra puxá-lo", conta João Eduardo.
Outro ponto positivo dessas atividades é a socialização. Isso quer dizer que as crianças ganham amigos, cegos ou não. "No começo, tinha preguiça de ir à natação. Mas acabei gostando e fiz vários amigos", fala Pedro.
A escola onde Poliana faz balé tem alunos não cegos. "Eles aprendem a respeitar e a ajudar os que não enxergam", diz Fernanda Bianchini, presidente da Associação de Balé e Artes para Cegos.

CINDERELA
Poliana de Abreu Brito, 7, cega desde que nasceu, já se apresentou em dois espetáculos de sua escola de balé e garante: "Danço muito bem!" Sua última apresentação foi um sucesso. "Deu tudo certo. Parecia que tinha uns 90 adultos lá, de tanto aplauso!" Na próxima, será a Cinderela e está confiante nos ensaios. "No começo era difícil, mas agora não. É só imaginar o que a professora vai falando", conta a bailarina, que, com a dança, perdeu o medo dos barulhos e passou a andar com uma postura melhor.

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