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RESENHA
Escrever bem é um direito
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Quando se propôs a publicar
"Redação Linha a Linha", a professora Thaís Nicoleti de Camargo tinha como foco imediato o
vestibular, oferecendo um instrumento para que os alunos pudessem encadear melhor as informações em seus textos. Mas o vestibular é apenas um detalhe -e talvez o menos importante deste livro. Relevante, de fato, é a relação
entre a escrita e os direitos mais
rudimentares da cidadania.
A falta do hábito de leitura e de
escrita, resultado, entre outros fatores, da supervalorização da
imagem, faz com que muitos alunos se sintam diante de uma redação como se estivessem perdidos
num labirinto de palavras,
incapazes de colocar no papel
uma idéia com um mínimo de
consistência. Isso sem falar
dos tropeços na língua, que deixam incompreensíveis várias passagens do texto.
É inútil, obviamente, sair por aí
acenando com as regras gramaticais, o que é algo parecido a ensinar os encantos da sensualidade
por meio de aulas de ginecologia.
Além de professora de ensino médio e de cursinhos pré-vestibulares, Thaís é consultora de língua
portuguesa da Folha. Está,
portanto, envolvida no fazer dos
textos tanto em sala de aula como
numa Redação, o que lhe
dá a visão privilegiada de quem
mergulha em diferentes formas
de expressão.
O livro parte de redações de leitores enviadas ao caderno Fovest,
da Folha, inspiradas em temas
contemporâneos que exigem do
aluno estar antenado com o cotidiano -aliás, condição essencial
para quem deseja ir bem numa
prova de redação. A autoridade
não se prende às regras,
embora sempre se apontem erros
gramaticais. O forte está na
discussão detalhada, com base
nos textos, sobre como estruturar
uma idéia sem cair em chavões,
dubiedades, inconsistência,
lugares-comuns. Ou seja, sobre
como escrever de forma clara, direta, precisa, coerente.
A necessidade de tais atributos
na escrita vai muito além do vestibular. Faz parte das habilidades
necessárias da cidadania. Quem
não consegue se expressar, falando ou escrevendo, corre o risco
de ser um cidadão de segunda
classe, limitado em seu direito de
crítica, incapaz de defender uma
posição com um mínimo de clareza. O vestibular passa (e bem rapidamente), mas a cidadania (ou
a falta dela) fica.
REDAÇÃO LINHA A LINHA. Autor: Thaís
Nicoleti de Camargo. Lançamento:
Publifolha. Quanto: R$ 24,90 (152 págs.).
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