São Paulo, quinta-feira, 01 de abril de 2004
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RESENHA

Escrever bem é um direito

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Quando se propôs a publicar "Redação Linha a Linha", a professora Thaís Nicoleti de Camargo tinha como foco imediato o vestibular, oferecendo um instrumento para que os alunos pudessem encadear melhor as informações em seus textos. Mas o vestibular é apenas um detalhe -e talvez o menos importante deste livro. Relevante, de fato, é a relação entre a escrita e os direitos mais rudimentares da cidadania.
A falta do hábito de leitura e de escrita, resultado, entre outros fatores, da supervalorização da imagem, faz com que muitos alunos se sintam diante de uma redação como se estivessem perdidos num labirinto de palavras, incapazes de colocar no papel uma idéia com um mínimo de consistência. Isso sem falar dos tropeços na língua, que deixam incompreensíveis várias passagens do texto.
É inútil, obviamente, sair por aí acenando com as regras gramaticais, o que é algo parecido a ensinar os encantos da sensualidade por meio de aulas de ginecologia. Além de professora de ensino médio e de cursinhos pré-vestibulares, Thaís é consultora de língua portuguesa da Folha. Está, portanto, envolvida no fazer dos textos tanto em sala de aula como numa Redação, o que lhe dá a visão privilegiada de quem mergulha em diferentes formas de expressão.
O livro parte de redações de leitores enviadas ao caderno Fovest, da Folha, inspiradas em temas contemporâneos que exigem do aluno estar antenado com o cotidiano -aliás, condição essencial para quem deseja ir bem numa prova de redação. A autoridade não se prende às regras, embora sempre se apontem erros gramaticais. O forte está na discussão detalhada, com base nos textos, sobre como estruturar uma idéia sem cair em chavões, dubiedades, inconsistência, lugares-comuns. Ou seja, sobre como escrever de forma clara, direta, precisa, coerente.
A necessidade de tais atributos na escrita vai muito além do vestibular. Faz parte das habilidades necessárias da cidadania. Quem não consegue se expressar, falando ou escrevendo, corre o risco de ser um cidadão de segunda classe, limitado em seu direito de crítica, incapaz de defender uma posição com um mínimo de clareza. O vestibular passa (e bem rapidamente), mas a cidadania (ou a falta dela) fica.


REDAÇÃO LINHA A LINHA. Autor: Thaís Nicoleti de Camargo. Lançamento: Publifolha. Quanto: R$ 24,90 (152 págs.).


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