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QUÍMICA
"Aroma" de gambá invade a cidade de São Paulo
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na manhã do dia 23 de junho, um forte cheiro invadiu
São Paulo depois que um caminhão que transportava o
gás t-butil mercaptana tombou na marginal Pinheiros.
Incomodados, os moradores
da região -muitos apresentando ânsia de vômito e ardência nos olhos- se perguntavam: para que serve algo tão malcheiroso?
Muitos dos combustíveis
do nosso cotidiano são hidrocarbonetos (HC) incolores e inodoros. O gás natural,
por exemplo, que queima em
muitos fogões, é principalmente metano (CH4). O GLP
dos botijões de gás também é
uma mistura desses HC
(C3H8 e C4H10). Assim, seus
vazamentos não poderiam
ser detectados: eles não têm
cheiro! Resultado: possível
explosão! É comum que teores pouco maiores que 5% de
CH4 no ar causem explosões
em minas de carvão, como a
que ocorreu há poucos dias
em Jinzhong, China. Os vazamentos desses gases também podem matar porque,
apesar de apresentarem baixa toxicidade, podem ocupar
o lugar do oxigênio do ar, asfixiando os moradores.
Para prevenir esses acidentes, as mercaptanas
(atualmente conhecidas como tióis) entram em ação.
São gases de odores fortíssimos, facilmente detectados
pelo nariz humano, por isso
são adicionados -em mínimas quantidades- aos combustíveis citados para alertar
vazamentos.
A metilmercaptana, ou
metanotiol (CH3-SH), por
exemplo, quando vazou de
uma indústria de inseticidas
inglesa, deixou centenas de
pessoas enjoadas. Não é para
menos. Esse gás é um dos
principais culpados pelo
cheirinho de chulé e pelo
mau hálito. Também é ele
que exalamos quando comemos alho...
Não foi esse o composto
que vazou em São Paulo, mas
um outro tiol de fórmula
(CH3)3C-SH (note que os
tióis são iguais aos álcoois,
mas com enxofre no lugar do
oxigênio). Com sua "fragrância delicada", funciona muito bem em duas situações:
como gás de alarme em vazamentos e, ligeiramente modificado, como arma dos
gambás, que o esguicham em
seu inimigo. Imagine o "aroma" de São Paulo no dia do
acidente...
LUÍS FERNANDO PEREIRA é químico formado pela USP. Leciona nos cursos Intergraus e Uno-sat/Ed.Moderna.
@ - lula7@terra.com.br
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