São Paulo, quinta-feira, 05 de agosto de 2004
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PAIS

Comparações e expectativas exageradas devem ser evitadas para que tensão de filho não cresça

Aumentar o diálogo é a melhor ajuda

Fernando Donasci/Folha Imagem
André Vieceli, que quer audiovisual, com o pai, Moacir, que se diz preocupado com a área de trabalho


MAYRA STACHUK
DA REPORTAGEM LOCAL

Como agem os pais de vestibulandos? De muitas maneiras. Mas há dois aspectos comuns: eles são ansiosos e querem o melhor para os filhos.
De acordo com especialistas, é difícil recomendar um comportamento ideal para os pais no ano em que os filhos prestam vestibular. "Não dá para generalizar. Nem os pais nem os filhos são iguais uns aos outros", diz o pedagogo Silvio Bock, especialista em orientação vocacional.
"Este momento é vivido em função da história que a família carrega. Se a relação entre pai e filho é dirigida ou democrática, é assim que ela se manifestará no ano de vestibular. Talvez com um pouco mais de intensidade, já que os dois estão mais tensos."
Mesmo assim, há dicas que podem ser seguidas por pais confusos por não saberem como se relacionar com os filhos neste momento. "Em primeiro lugar, os pais têm de controlar a ansiedade e aumentar o diálogo", diz Maria Beatriz Loureiro de Oliveira, psicopedagoga da Unesp.
"É importante que os pais ouçam os filhos, observem, sintam. Muitos pais brigam com os filhos porque acham que eles estudam menos do que deveriam, mas não param para tentar descobrir por que isso está acontecendo. Às vezes, é um motivo que parece banal para os pais, como acne no rosto ou um amor não-correspondido, mas que, para o adolescente, é um grande problema e o impede de pensar em outras coisas", afirma.
Em alguns casos, segundo a psicóloga Lígia Nunes Guerra, a falta de interesse pelos estudos pode indicar falta de objetivo. "Quando o jovem não consegue decidir o que quer, fica sem uma meta. Nesse caso, a ajuda dos pais é importante, mas ela não pode acontecer na forma de pressão."
"A opinião do pai é uma referência essencial para os jovens. E, numa situação ideal, é isso que deve ser. É a opinião de uma pessoa mais experiente para o jovem considerar. Ela não necessariamente será a opção certa, mas é um dos caminhos", diz.
Segundo os especialistas, outros dois aspectos que devem ser considerados pelos pais nesse relacionamento com os filhos são a comparação e a criação de expectativa.
"Os pais devem evitar dar opiniões muito baseadas em exemplos de sucesso, porque isso pode fazer com que esse jovem, que já está sentindo uma certa impotência, sinta-se ainda mais incapaz", diz Maria Beatriz. "Além disso, a projeção de profissões herdadas da família, assim como os exemplos de sucesso, fazem com que o jovem crie mitos -uma fórmula pronta- e não tenha a paciência necessária para chegar aonde quer", afirma Lígia.
A escolha da carreira também costuma gerar impasses em casa. De acordo com Maria Beatriz, os pais geralmente querem se pautar pela situação do mercado de trabalho na hora de recomendar uma carreira para o filho. Acontece que, diferentemente de 40 anos atrás, essa é uma previsão agora impossível.
"Essa ansiedade em querer ajudar o filho está baseada em um paradigma equivocado, que não existe mais. Os jovens hoje têm de ser preparados para lidar com a instabilidade e com a própria incerteza. Não existe mais profissão do futuro, mas sim profissional do futuro."
Nesse caso, segundo Lígia, a participação efetiva dos pais pode ser tão importante quanto o diálogo. "Muitas vezes o jovem precisa de algo mais do que apoio moral. Ele necessita de incentivo prático. Isso pode acontecer, por exemplo, na busca de informações sobre as carreiras que o atraiam", afirma a psicóloga.
Vale destacar, segundo ela, que essa ajuda não deve acontecer como forma de cobrança, mas sim de companheirismo, uma empatia do pai pela angústia do filho. "O jovem é capaz de perceber quando está sendo cobrado e quando está tendo apoio."
"Toda ajuda é bem-vinda, só não pode prometer prêmios para o filho passar no vestibular. Esse é o maior erro que o pai comete, pois exerce uma pressão errada. É um tipo de chantagem que só prejudica o filho", alerta Bock.


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