ESPECIAL PARA A FOLHA

Um dos contos mais conhecidos de Machado de Assis, "O Alienista" ganha uma adaptação para o teatro. A montagem está divertida, bastante movimentada e tem tudo para agradar ao público jovem.
Mas, apesar de contar fielmente a história, a encenação não consegue transmitir tudo o que está no livro. Isso porque Machado é mesmo um tanto escorregadio. Suas narrativas são pretextos para os comentários ácidos nos quais destila o seu já proverbial pessimismo.
A busca do limite entre a loucura e a sanidade é o fio condutor da trama. O médico Simão Bacamarte realiza sua pesquisa internando na Casa Verde os moradores da vila de Itaguaí.
Ironicamente, entre os loucos estavam, além dos caricatos (que rendem boas cenas na peça), os exibicionistas, os vaidosos em excesso, os supersticiosos e os falastrões -estes, alvos prediletos de Machado, que não poupa os "arroubos oratórios" de quem quer que seja, expondo ao ridículo a falsidade e a tibieza de quem se esconde atrás da retórica.
Mas, além ou aquém do tema universal da loucura, a narrativa de Machado retrata a sociedade de seu tempo. A presença incidental de um escravo, a medicina rústica praticada pelos barbeiros que aplicavam sanguessugas para provocar sangrias ou os sorteios para a escolha de vereadores nos dão a dimensão histórica do texto.
A ânsia pelo poder e a venalidade de certos políticos, entretanto, trazem o leitor/espectador de volta aos dias de hoje. (THAÍS NICOLETI DE CAMARGO)