São Paulo, terça-feira, 06 de outubro de 2009
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DEU NA MÍDIA

Seria o Afeganistão o "Vietnã" de Obama?

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma indefinição paira sobre as eleições no Afeganistão. Os dados oficiais informam que Hamid Karzai obteve 54% dos votos contra 27% do seu principal opositor, o ex-chanceler Abdullah Abdullah. Observadores indicados pela União Europeia apontaram suspeitas de fraude em 1,5 milhão dos 5,6 milhões de votos. Assim, o resultado que legitimaria o segundo mandato de Karzai terá de esperar.
Enquanto o impasse não é resolvido, relembremos alguns fatos: em 2001, após o 11 de Setembro, os EUA ocuparam militarmente o Afeganistão em busca de Osama Bin Laden, o líder da rede Al Qaeda. Empenhado em levar a democracia para a Ásia Central -segundo os "falcões" da Casa Branca comandados à época por Bush-, Washington derrotou os extremistas do Taleban e lançou as bases do novo Afeganistão ao nomear um governo interino comandado por Karzai, o líder pashtun -maior grupo étnico- moderado, encarregado de levar o país à democracia.
Habituados à luta e à guerra, os afegãos, nas últimas décadas, resistiram primeiro à ocupação militar da União Soviética (1979-1989), expulsando-a com seus guerrilheiros islâmicos, os mujahedins.
Em seguida (1996), enfrentaram os "estudantes muçulmanos" do Taleban, que com sua rígida disciplina perseguiam e executavam aqueles que se rebelavam contra a lei islâmica, a sharia.
Finda a era Taleban (2001) com a chegada dos EUA, permaneceu no país um enorme comando de ocupação, cuja tarefa era sustentar o governo de transição sob o comando de Karzai, o aliado vencedor do primeiro pleito dito democrático em 2004. Nesse período, a produção de ópio, segundo a ONU, bateu o recorde em 2007, o que levou o Afeganistão ao posto de maior produtor do mundo.
Sua produção ultrapassou as 8.000 toneladas -90% da produção mundial.
Mais recentemente, as notícias são que o Taleban está se reorganizando em algumas regiões, inclusive controlando parte do comércio de ópio. Em resposta, os EUA enviaram mais 17 mil combatentes, totalizando 55 mil soldados no país.
Denúncias contra Karzai indicam uma liderança incapaz de combater a corrupção e o tráfico de drogas, fatos que prejudicam as estratégias da Casa Branca. Agora, denúncias de fraudes comprometem, mais que o projeto de democracia, seu fiador maior, os EUA. Tal cenário, somado às dificuldades internas de Obama, representam outro golpe em sua popularidade. Razão suficiente para acreditar que esse "atoleiro" pode se tornar intransponível, o que torna pertinente a indagação: seria o Afeganistão o "Vietnã" de Obama?


ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile.

rcandelori@uol.com.br


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