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DEU NA MÍDIA
Seria o Afeganistão o "Vietnã" de Obama?
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma indefinição paira sobre as eleições no Afeganistão. Os dados oficiais informam que Hamid Karzai obteve 54% dos votos contra
27% do seu principal opositor, o ex-chanceler Abdullah
Abdullah. Observadores indicados pela União Europeia
apontaram suspeitas de
fraude em 1,5 milhão dos 5,6
milhões de votos. Assim, o
resultado que legitimaria o
segundo mandato de Karzai
terá de esperar.
Enquanto o impasse não é
resolvido, relembremos alguns fatos: em 2001, após o 11
de Setembro, os EUA ocuparam militarmente o Afeganistão em busca de Osama
Bin Laden, o líder da rede Al
Qaeda. Empenhado em levar
a democracia para a Ásia
Central -segundo os "falcões" da Casa Branca comandados à época por
Bush-, Washington derrotou os extremistas do Taleban e lançou as bases do novo Afeganistão ao nomear
um governo interino comandado por Karzai, o líder
pashtun -maior grupo étnico- moderado, encarregado
de levar o país à democracia.
Habituados à luta e à guerra, os afegãos, nas últimas
décadas, resistiram primeiro
à ocupação militar da União
Soviética (1979-1989), expulsando-a com seus guerrilheiros islâmicos, os mujahedins.
Em seguida (1996), enfrentaram os "estudantes muçulmanos" do Taleban, que com
sua rígida disciplina perseguiam e executavam aqueles
que se rebelavam contra a lei
islâmica, a sharia.
Finda a era Taleban (2001)
com a chegada dos EUA, permaneceu no país um enorme
comando de ocupação, cuja
tarefa era sustentar o governo de transição sob o comando de Karzai, o aliado vencedor do primeiro pleito dito
democrático em 2004. Nesse
período, a produção de ópio,
segundo a ONU, bateu o recorde em 2007, o que levou o
Afeganistão ao posto de
maior produtor do mundo.
Sua produção ultrapassou as
8.000 toneladas -90% da
produção mundial.
Mais recentemente, as notícias são que o Taleban está
se reorganizando em algumas regiões, inclusive controlando parte do comércio
de ópio. Em resposta, os
EUA enviaram mais 17 mil
combatentes, totalizando 55
mil soldados no país.
Denúncias contra Karzai
indicam uma liderança incapaz de combater a corrupção
e o tráfico de drogas, fatos
que prejudicam as estratégias da Casa Branca. Agora,
denúncias de fraudes comprometem, mais que o projeto de democracia, seu fiador
maior, os EUA. Tal cenário,
somado às dificuldades internas de Obama, representam outro golpe em sua popularidade. Razão suficiente
para acreditar que esse "atoleiro" pode se tornar intransponível, o que torna
pertinente a indagação: seria
o Afeganistão o "Vietnã" de
Obama?
ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile.
rcandelori@uol.com.br
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