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CORREÇÃO
Sob sigilo, até 350 pessoas corrigem provas do vestibular
Cada questão é examinada por ao menos duas pessoas
LUISA ALCANTARA E SILVA
PATRÍCIA GOMES
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim que o vestibular termina, começa o trabalho de um
contingente responsável pelo
que mais aflige os estudantes
-decidir quem foi aprovado ou
não. Está nas mãos de até 350
corretores o futuro dos candidatos a entrar na universidade.
Por trás da correção, há um
sistema que as universidades
públicas paulistas dizem ser à
prova de falhas: cada questão é
examinada por ao menos duas
pessoas. Se houver divergência,
uma terceira entra em ação.
O mecanismo é semelhante na
USP, na Unesp e na Unicamp.
Na USP, por exemplo, são até
seis instâncias. A última palavra, em caso de divergência nas
notas, fica a cargo da professora
Maria Tereza Fraga Rocco, vice-diretora da Fuvest, que promove o vestibular da USP.
Perguntas de ciências humanas são as mais complicadas
-cerca de 40% exigem terceira
avaliação por apresentar notas
muito diferentes, diz Mauricio
Kleinke, coordenador de pesquisa da Comvest, da Unicamp.
Por não terem resposta-padrão, as questões dissertativas
exigem dos avaliadores critérios muito bem estabelecidos,
que "são afinados durante o
treinamento dos examinadores
e até ao longo do processo de
correção", de acordo com Paulo
Del Bianco, coordenador da
correção da Vunesp (Unesp).
Na USP e na Unesp, há etapas
com questões de múltipla escolha. Para garantir que não haja
erro na correção, as provas objetivas são submetidas a verificação eletrônica. O vestibular
da Unicamp é todo dissertativo.
Há uma espécie de gabarito
com a resposta considerada
correta -com um raciocínio a
ser seguido e temas que devem
estar presentes na resposta.
Se o vestibulando seguiu o que foi
pedido na questão, ganha ponto. Se não abordou nada do que
foi cobrado, tira zero. Há a possibilidade de receber pontuação parcial, caso a resposta não
esteja totalmente incorreta.
Nas três universidades, o trabalho é dividido em bancas específicas -um grupo de examinadores cuida da prova de português, enquanto outro se encarrega das questões de matemática, por exemplo. São 350
pessoas na USP e 190 na Unicamp. Na Unesp, que, assim como a USP, inaugura um novo
formato de vestibular no fim do
ano, estima-se que passem a ser
cerca de 200 corretores.
Eles ficam em uma sala preparada especificamente para a
correção. Na Unicamp, ficam
um ao lado do outro. Mas um
não sabe que questão ou prova
o colega está corrigindo, diz o
professor Kleinke.
Os corretores, em geral estudantes de pós-graduação ou
professores, trabalham cerca
de oito horas diárias. Nos primeiros dias, o trabalho é mais
lento, mas a velocidade de correção aumenta com o passar do
tempo. "A grade de correção fica impregnada na cabeça e você
quase sonha com ela. Depois
que você corrige 500 provas, fica automático", afirma Kleinke, ele próprio um ex-corretor.
Sigilo
O processo de correção das
provas é sigiloso.
O nome dos corretores nunca é divulgado. Eles são orientados a revelar apenas ao cônjuge o que fazem. E só depois
que concluírem o trabalho podem assumir que atuaram como examinadores.
As universidades dizem que a
precaução se justifica: qualquer
suspeita sobre o vestibular
anularia o processo.
Situações que suscitem suspeitas são evitadas. Em maio, o
coordenador do vestibular da
Unicamp, Leandro Tessler, deixou o posto. Motivo: a filha dele
vai prestar o processo seletivo
da universidade.
Colaborou RAFAEL SAMPAIO
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