|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUÍMICA
O "gás dos nervos" e a química do mal
LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Há poucos dias, terroristas tchetchenos tomaram um teatro em
Moscou com mais de 700 pessoas.
Ameaçavam explodi-lo, se não
fosse atendida sua exigência: o
fim da guerra na Tchetchênia.
Então o Exército russo entrou
em ação. Utilizando um gás tóxico (que os russos dizem ser fentanyl, um anestésico derivado do
ópio), invadiu o teatro e resgatou
os reféns. Mas nem tudo deu certo. Mais de 500 reféns estão hospitalizados e mais de cem morreram. Foram os efeitos do tal gás.
Armas como essa são o lado negro de uma das mais belas ciências: a química. Nesse campo, um
gás se destaca: o sarin, chamado
de "gás dos nervos". Criado na
década de 30 pelo químico alemão Gerhard Schrader, quando
ele estudava inseticidas feitos com
fósforo, esse gás foi testado nos
prisioneiros dos campos de concentração durante a Segunda
Guerra Mundial.
Mas Hitler nunca o utilizou em
combate. Por ser muito fácil de
ser feito, ele tinha certeza de que
os aliados também sabiam como
prepará-lo e de que não hesitariam em dar o troco. Detalhe: os
aliados não sabiam da existência
do sarin.
Em abril de 1995, os usuários do
metrô de Tóquio não tiveram a
mesma sorte dos aliados. Membros de uma seita apocalíptica
contaminaram alguns vagões
com o "gás dos nervos". As cenas
foram horríveis. Pessoas tossiam,
cambaleavam e caíam. Deitadas,
contorciam-se e espumavam pela
boca. Resultado: mais de 5.000 intoxicados e 12 mortos.
O sarin é tão tóxico que uma cidade com 1 milhão de pessoas pode ser dizimada espalhando-se
apenas um quilo desse gás no ar!
Sua molécula é formada de um
átomo central de fósforo com
quatro ligantes: o flúor, o oxigênio, o metila e o radical isopropóxi, que geram a fórmula : (CH3)2-
CHO-P-(CH3)FO. Ele mata
porque inibe a enzima colinesterase. Essa enzima anula os efeitos
da acetilcolina, substância responsável pela transmissão dos
impulsos nervosos. Uma vez feito
seu serviço, a acetilcolina deve ser
removida. Com a colinesterase
inibida pelo sarin, sobra muita
acetilcolina, o que faz os músculos
se contraírem incontrolavelmente. Por isso ocorrem as convulsões
ou, quando os pulmões e o coração são atingidos, até a morte.
Nos estágios iniciais da intoxicação, ainda há um antídoto: a
atropina, substância que libera a
enzima bloqueada. Mas, para as
mais de cem vítimas na Rússia,
nenhum antídoto chegou a tempo de salvar suas vidas.
Luís Fernando Pereira é professor do
curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/ Moderna. E-mail:
lula5@ig.com.br
Texto Anterior: Vale a pena saber - Matemática: Um problema de solução desconhecida Próximo Texto: História: A cafeicultura e o surgimento da República Índice
|