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VALE A PENA SABER
PORTUGUÊS
Infinitivo tem uso pouco disciplinado
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Existe certa instabilidade no que
diz respeito ao emprego da forma flexionada do infinitivo. Peculiar à língua portuguesa, o infinitivo pessoal tem seu uso disciplinado sobretudo por necessidades de
caráter estilístico, que buscam a
ênfase em um sentido.
Pode-se dizer, entretanto, que a
flexão ocorre sistematicamente
quando o infinitivo tem sujeito
diferente do sujeito do verbo anterior, pois essa distinção precisa
ser marcada. Assim: "Emprestarei o livro para vocês o lerem".
Mas, se o sujeito de ambos os verbos for o mesmo, por desnecessária, a flexão não ocorrerá. Assim:
"Eles ficaram em casa para conversar com os filhos".
Quando atua como complemento de adjetivos, de substantivos e mesmo de verbos, situações
em que aparece preposicionado,
o infinitivo geralmente prescinde
da flexão. Assim: "Estavam dispostos a violar o acordo", "Eles
não tiveram oportunidade de provar sua inocência", "O pai obrigou os filhos a estudar". Note-se
que, neste último exemplo, "estudar" é ação a ser executada pelos
filhos, mas, ainda assim, o infinitivo não se flexiona. A presença da
preposição reforça a idéia de que
o verbo completa o anterior, o
que nos leva a evitar a sua flexão.
O mesmo se verifica nos infinitivos que completam construções
passivas. Assim: "Eles foram acusados de cometer fraudes".
Mas, se estiver na voz passiva, o
infinitivo será flexionado. Assim:
"Fizeram de tudo para não serem
reconhecidos". Esse será também
o comportamento dos verbos
pronominais (que se constroem
com o pronome oblíquo correspondente) e dos verbos reflexivos. Assim: "Ajam com cautela
para não se arrependerem" (verbo pronominal), "Entraram na
sala sem se cumprimentarem"
(verbo reflexivo).
Já os verbos auxiliares causativos e sensitivos (mandar, deixar,
fazer, ver, ouvir, sentir e sinônimos) normalmente têm por complemento um infinitivo impessoal. Por exemplo: "Deixou-os
sair mais cedo", "Ouviu-as entoar
uma triste cantiga". Mas, se o sujeito do infinitivo for representado por um substantivo, e não pelo
pronome átono, o infinitivo tenderá a ser flexionado. Assim: "O
professor deixou os alunos saírem
mais cedo".
Quando, regido de preposição,
antecede a oração principal, o infinitivo costuma ser flexionado, o
que aumenta a eficácia do texto, já
que o sujeito da principal é antecipado. Assim: "Ao perceberem o
equívoco, as moças sorriram".
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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