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CARREIRA
Gerontologia busca a boa velhice
Perfil do bacharel é o de um "gestor de cuidado"; curso começou na USP Leste em 2005
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando os Beatles gravaram
"When I'm 64" ("quando eu tiver 64 anos", em tradução livre), Paul McCartney tinha
apenas 24 anos. O tempo passou, o mundo mudou, o músico
atingiu a mencionada idade e os
conceitos sobre a velhice não
param de se transformar. É
com todo esse universo que envolve o envelhecimento que o
curso de gerontologia da USP,
criado em 2005 no campus da
zona leste, pretende lidar. E as
possibilidades não são poucas.
"A velhice pode ser vista de
um jeito bom ou de um jeito
mau. O curso entra para que a
velhice seja bem-sucedida", diz
a vice-coordenadora, Ângela
Maria Machado de Lima.
Como a carreira é muito nova, o clima do curso é de construção. "Ainda não dá para dizer qual vai ser o mercado. Mas
há um potencial muito grande,
porque cada vez mais aumenta
o número de idosos. O perfil do
bacharel é o de um gestor de
cuidado", aponta.
No entanto, o trabalho do futuro graduado não vai se confundir de jeito nenhum com o
de um enfermeiro ou de um
médico geriatra. Por isso quem
se interessa apenas pela área da
saúde talvez se frustre. É que a
graduação é organizada em três
eixos: o biológico e de saúde, o
sociocultural e o psicológico. E
todos têm o mesmo peso. "Cuidar tem vários sentidos, como
ouvir as necessidades da pessoa", completa Ângela.
Quando entrou na faculdade,
Cesar Plaça de Medeiros, 20,
ainda imaginou que gerontologia ia tratar mais dos aspectos
biológicos. A escolha foi praticamente uma alternativa à medicina, cuja concorrência no
vestibular o desestimulou.
"Estou muito satisfeito. Vi
que o curso tem bastante a ver
com a área social, com a elaboração de políticas públicas para
idosos, por exemplo. Acho que
mudei o meu foco", afirma.
Cesar relata que a turma da
faculdade está bastante empenhada em promover o curso.
"Sempre que tem algum congresso, algum representante da
faculdade comparece", conta.
Além disso, o estágio curricular
aproxima a graduação da prática. A turma acabou de passar
pelo Centro de Referência do
Idoso de São Miguel Paulista
para observar a dinâmica de
funcionamento.
Para os que adotam o tema
do envelhecimento e da velhice
como carreira, muitas vezes
um parente serviu de inspiração para a escolha.
"Quando eu tinha 16 anos,
minha avó me pediu em segredo que, quando ela morresse,
era para fazer um cortejo a pé
de casa até o cemitério. Na época, aquilo me pegou de surpresa, porque era a única forma de
um velho ter visibilidade", conta Andrea Lopes, antropóloga
que conclui doutorado sobre
voluntariado entre idosos.
Depois, já na faculdade, acabou se envolvendo com a temática e pesquisa as necessidades
e a identidade do velho.
Um de seus estudos foi mapear o desenvolvimento do tema no país. Andrea aponta três
fases: a primeira foi a partir de
1960, quando os médicos começaram a pensar na velhice; a
segunda, a partir de 1980, quando outros profissionais passaram a lidar com o tema; e a terceira, desde a década de 90,
quando começou a preocupação em transformar a gerontologia em ciência. Ela também
aponta que as demandas dos
idosos cada vez mais ganham
visibilidade e garantem espaços para profissionais.
E é com a vontade dos pesquisadores que a ciência multidisciplinar da gerontologia vai
ganhando adeptos. "Os alunos
vão descobrir o que fazer, vão
mostrar que são necessários e,
daqui a pouco, a sociedade já
vai aceitá-los. É assim com
qualquer profissão", afirma
Anita Liberalesso Neri, psicóloga e integrante da comissão que
coordena a pós-graduação em
gerontologia da Unicamp.
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