São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006
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CARREIRA

Gerontologia busca a boa velhice

Perfil do bacharel é o de um "gestor de cuidado"; curso começou na USP Leste em 2005

SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando os Beatles gravaram "When I'm 64" ("quando eu tiver 64 anos", em tradução livre), Paul McCartney tinha apenas 24 anos. O tempo passou, o mundo mudou, o músico atingiu a mencionada idade e os conceitos sobre a velhice não param de se transformar. É com todo esse universo que envolve o envelhecimento que o curso de gerontologia da USP, criado em 2005 no campus da zona leste, pretende lidar. E as possibilidades não são poucas.
"A velhice pode ser vista de um jeito bom ou de um jeito mau. O curso entra para que a velhice seja bem-sucedida", diz a vice-coordenadora, Ângela Maria Machado de Lima.
Como a carreira é muito nova, o clima do curso é de construção. "Ainda não dá para dizer qual vai ser o mercado. Mas há um potencial muito grande, porque cada vez mais aumenta o número de idosos. O perfil do bacharel é o de um gestor de cuidado", aponta.
No entanto, o trabalho do futuro graduado não vai se confundir de jeito nenhum com o de um enfermeiro ou de um médico geriatra. Por isso quem se interessa apenas pela área da saúde talvez se frustre. É que a graduação é organizada em três eixos: o biológico e de saúde, o sociocultural e o psicológico. E todos têm o mesmo peso. "Cuidar tem vários sentidos, como ouvir as necessidades da pessoa", completa Ângela.
Quando entrou na faculdade, Cesar Plaça de Medeiros, 20, ainda imaginou que gerontologia ia tratar mais dos aspectos biológicos. A escolha foi praticamente uma alternativa à medicina, cuja concorrência no vestibular o desestimulou.
"Estou muito satisfeito. Vi que o curso tem bastante a ver com a área social, com a elaboração de políticas públicas para idosos, por exemplo. Acho que mudei o meu foco", afirma.
Cesar relata que a turma da faculdade está bastante empenhada em promover o curso. "Sempre que tem algum congresso, algum representante da faculdade comparece", conta. Além disso, o estágio curricular aproxima a graduação da prática. A turma acabou de passar pelo Centro de Referência do Idoso de São Miguel Paulista para observar a dinâmica de funcionamento.
Para os que adotam o tema do envelhecimento e da velhice como carreira, muitas vezes um parente serviu de inspiração para a escolha.
"Quando eu tinha 16 anos, minha avó me pediu em segredo que, quando ela morresse, era para fazer um cortejo a pé de casa até o cemitério. Na época, aquilo me pegou de surpresa, porque era a única forma de um velho ter visibilidade", conta Andrea Lopes, antropóloga que conclui doutorado sobre voluntariado entre idosos.
Depois, já na faculdade, acabou se envolvendo com a temática e pesquisa as necessidades e a identidade do velho.
Um de seus estudos foi mapear o desenvolvimento do tema no país. Andrea aponta três fases: a primeira foi a partir de 1960, quando os médicos começaram a pensar na velhice; a segunda, a partir de 1980, quando outros profissionais passaram a lidar com o tema; e a terceira, desde a década de 90, quando começou a preocupação em transformar a gerontologia em ciência. Ela também aponta que as demandas dos idosos cada vez mais ganham visibilidade e garantem espaços para profissionais.
E é com a vontade dos pesquisadores que a ciência multidisciplinar da gerontologia vai ganhando adeptos. "Os alunos vão descobrir o que fazer, vão mostrar que são necessários e, daqui a pouco, a sociedade já vai aceitá-los. É assim com qualquer profissão", afirma Anita Liberalesso Neri, psicóloga e integrante da comissão que coordena a pós-graduação em gerontologia da Unicamp.


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