São Paulo, terça-feira, 08 de setembro de 2009
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ESCOLHA DA CARREIRA

Mudar de ideia não é o fim do mundo

Para psicóloga, candidato não deve atribuir à decisão da carreira peso maior que o necessário

RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Faltam apenas três dias para o fim das inscrições da USP, e Fernanda Ribeiro, 19, ainda quebra a cabeça para decidir o que prestar no vestibular. Ela já tentou de tudo: leu guia de profissões, conversou com alunos, foi às bibliotecas dos cursos, tentou orientação profissional e... nada. A dúvida persiste: física, matemática ou psicologia?
"Já fiz um pouco de tudo. Mas também não estou me pressionando tanto. Se eu tentar e não gostar do curso, tento de novo", diz. Fernanda tem alguma familiaridade com o tema: ela está prestes a abandonar o segundo ano do curso de letras na Unesp. "Escolhi letras por afobação. Não vi nenhum benefício em começar a faculdade tão cedo."
Como ela, muitos vestibulandos se veem pressionados a escolher uma carreira sem estar completamente seguros.
Para a psicóloga Fátima Trindade, presidente da Abop (Associação Brasileira de Orientação Profissional) e diretora do Colégio Franciscano Pio 12, um dos segredos para o candidato está em não atribuir à decisão sobre a carreira um peso maior do que o necessário.
"Essa escolha não é a definitiva da vida. Ela é importante, dá norte ao aluno, mas não é a única. Isso o jovem precisa ter claro." Justamente por não pensarem assim, muitos indecisos se sentem frustrados e até entram em depressão, diz ela.
"A escolha é uma ideia em construção, desenvolvida aos poucos", afirma Elaine Schevz, que já prestou orientação profissional a cerca de 420 alunos de colégios e hoje atua no Cursinho do XI, em São Paulo.
Não há números sobre a indecisão, mas um dado da USP ajuda a ilustrar o fenômeno: de cada 20 alunos matriculados nos últimos cinco anos, um já havia abandonado algum curso da universidade antes. Entre as razões possíveis, está a incerteza sobre o curso escolhido.
É o que Bruno Guedes, 18, quer evitar. Enquanto o fim das inscrições da Fuvest se aproxima, ele tenta decidir entre direito e engenharia. "Gosto das duas áreas. O direito tem mercado para trabalhar, e engenharia me parece um curso mais abrangente." O principal medo, diz ele, é não gostar.
Segundo especialistas, a indecisão é normal, mas vale uma dica: quem estiver se sentindo assim deve, se possível, adiar a escolha. "Quando não estou extremamente seguro, não vou subir ao altar e casar. Eu namoro mais um pouco. É a mesma coisa", diz Fátima Trindade.
Mas, se o aluno não quiser perder o ano, também pode ir em frente e prestar o vestibular, diz ela. "Ele estica um pouco a decisão; se inscreve, faz a prova, tem mais tempo para refletir. Quando sair o resultado do vestibular, aí toma a decisão de fazer ou não o curso."
Entre as dicas de Fátima para chegar a uma escolha mais segura estão pesquisar melhor sobre a profissão, conversar com gente que trabalha na área e levar em conta o que gosta de fazer.
Fernanda fez tudo isso. Primeiro, se convenceu de que letras não era a sua área, por achar o curso "muito teórico". Depois, decidiu fazer cursinho e se apaixonou por exatas -o que a aproximou de física e matemática- e por psicologia. Mas ainda não tem muito claro como acertar na escolha.


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