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ESCOLHA DA CARREIRA
Mudar de ideia não é o fim do mundo
Para psicóloga, candidato não deve atribuir à decisão da carreira peso maior que o necessário
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Faltam apenas três dias para
o fim das inscrições da USP, e
Fernanda Ribeiro, 19, ainda
quebra a cabeça para decidir o
que prestar no vestibular. Ela já
tentou de tudo: leu guia de profissões, conversou com alunos,
foi às bibliotecas dos cursos,
tentou orientação profissional
e... nada. A dúvida persiste: física, matemática ou psicologia?
"Já fiz um pouco de tudo.
Mas também não estou me
pressionando tanto. Se eu tentar e não gostar do curso, tento
de novo", diz. Fernanda tem alguma familiaridade com o tema: ela está prestes a abandonar o segundo ano do curso de
letras na Unesp. "Escolhi letras
por afobação. Não vi nenhum
benefício em começar a faculdade tão cedo."
Como ela, muitos vestibulandos se veem pressionados a escolher uma carreira sem estar
completamente seguros.
Para a psicóloga Fátima
Trindade, presidente da Abop
(Associação Brasileira de
Orientação Profissional) e diretora do Colégio Franciscano
Pio 12, um dos segredos para o
candidato está em não atribuir
à decisão sobre a carreira um
peso maior do que o necessário.
"Essa escolha não é a definitiva da vida. Ela é importante,
dá norte ao aluno, mas não é a
única. Isso o jovem precisa ter
claro." Justamente por não
pensarem assim, muitos indecisos se sentem frustrados e até
entram em depressão, diz ela.
"A escolha é uma ideia em
construção, desenvolvida aos
poucos", afirma Elaine Schevz,
que já prestou orientação profissional a cerca de 420 alunos
de colégios e hoje atua no Cursinho do XI, em São Paulo.
Não há números sobre a indecisão, mas um dado da USP
ajuda a ilustrar o fenômeno: de
cada 20 alunos matriculados
nos últimos cinco anos, um já
havia abandonado algum curso
da universidade antes. Entre as
razões possíveis, está a incerteza sobre o curso escolhido.
É o que Bruno Guedes, 18,
quer evitar. Enquanto o fim das
inscrições da Fuvest se aproxima, ele tenta decidir entre direito e engenharia. "Gosto das
duas áreas. O direito tem mercado para trabalhar, e engenharia me parece um curso mais
abrangente." O principal medo,
diz ele, é não gostar.
Segundo especialistas, a indecisão é normal, mas vale uma
dica: quem estiver se sentindo
assim deve, se possível, adiar a
escolha. "Quando não estou extremamente seguro, não vou
subir ao altar e casar. Eu namoro mais um pouco. É a mesma
coisa", diz Fátima Trindade.
Mas, se o aluno não quiser
perder o ano, também pode ir
em frente e prestar o vestibular, diz ela. "Ele estica um pouco a decisão; se inscreve, faz a
prova, tem mais tempo para refletir. Quando sair o resultado
do vestibular, aí toma a decisão
de fazer ou não o curso."
Entre as dicas de Fátima para
chegar a uma escolha mais segura estão pesquisar melhor
sobre a profissão, conversar
com gente que trabalha na área
e levar em conta o que gosta de
fazer.
Fernanda fez tudo isso. Primeiro, se convenceu de que letras não era a sua área, por
achar o curso "muito teórico".
Depois, decidiu fazer cursinho
e se apaixonou por exatas -o
que a aproximou de física e matemática- e por psicologia.
Mas ainda não tem muito claro
como acertar na escolha.
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