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DEU NA MÍDIA
Aos 30 anos, Lei da Anistia ainda divide opiniões
ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Promulgada há 30 anos, a
Lei da Anistia, que marcou o
fim da ditadura militar
(1964-1985) no Brasil, ainda
divide opiniões. A polêmica
ganhou novo impulso quando, em outubro de 2008, a
OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) encaminhou ao
STF (Supremo Tribunal Federal) uma ação na qual exige
a revisão da lei.
Segundo a OAB, o crime de
tortura é "imprescritível", ou
seja, não é passível de perdão, de modo que seus agentes, os torturadores, não poderiam receber o beneficio
dessa legislação.
Sancionada no dia 28 de
agosto de 1979, a lei, que nasceu "ampla, geral e irrestrita", foi encaminhada ao Congresso pelo presidente João
Baptista Figueiredo (1979-1985), último militar a comandar o Brasil. Aprovada
na reta final do regime, após
mais de uma década de ditadura, a lei caracterizou-se
por anistiar ambos os lados,
militares e militantes da "esquerda".
Por essa razão, foi anunciada como uma lei de "mão
dupla". No entanto, para
muitos, serviu principalmente como um instrumento de proteção aos agentes da
repressão.
Ancorada em jurisprudência internacional de direitos
humanos, da qual o Brasil é
signatário, a OAB sustenta
que os atos de tortura estão
enquadrados entre os crimes
contra a humanidade, por isso são "imprescritíveis".
Defende, portanto, que o aparato de Estado, em seu legítimo
direito de exercer o monopólio da violência, não poderia
ter permitido que seus agentes ou "autoridades" promovessem, sob sua proteção e/
ou em seu nome, sessões de
tortura e execução sumária
de militantes de esquerda.
Na trincheira oposta,
membros das mais altas patentes do Clube Militar acusam a "esquerda" de retomar
a polêmica por "ódio e revanchismo".
Ao insistir em passar a limpo os "anos de chumbo", o
objetivo maior da anistia
-de "conciliar e pacificar a
sociedade brasileira"- estaria sendo esquecido. Argumentam ainda que a aprovação da lei da reparação econômica de 2002, sancionada
pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso, ressarciu, por meio de indenizações, as vítimas de perseguição política e os familiares de
mortos e desaparecidos.
Assim, concluem os militares, o melhor seria esquecer o passado, "olhar para a
frente" e fazer um acerto de
contas, sim, mas com o futuro. Na outra margem, as organizações de direitos humanos respondem que, sem "revanchismo", ódio ou vingança, é hora de o Brasil encarar
a sua própria história e com
transparência mostrar à sociedade o que aconteceu de
fato nos tempos da ditadura.
Aos ministros do Supremo
Tribunal Federal caberá o
arbítrio da questão.
ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile.
rcandelori@uol.com.br
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