São Paulo, terça-feira, 09 de fevereiro de 2010
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DEU NA MÍDIA

Angola e o movimento separatista de Cabinda

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A Copa Africana de Nações era para ser apenas um majestoso evento esportivo, mas ganhou outro destaque. No dia 8 de janeiro, membros do grupo separatista Flec (Forças de Libertação do Estado de Cabinda), em Angola, atacaram o ônibus da seleção de futebol do Togo, causando a morte de três pessoas.
Esquecida no tempo, essa história tem início quando o português Diogo Cão alcançou a foz do rio Congo em 1482, marcando o início do processo de colonização do antigo reino do Congo.
Séculos mais tarde, com a partilha da África realizada na Conferência de Berlim (1885), Angola passou oficialmente ao controle de Portugal. Empenhado na exploração das imensas riquezas naturais, a estratégia do colonizador foi aumentar a presença civil e militar no território angolano.
Mas, no final dos anos de 1950, em meio à moldura da Guerra Fria, movimentos nacionalistas espalharam-se por todos os territórios ultramarinos portugueses. Em Angola, os partidários da luta pela independência criaram, em 1956, o MPLA (Movimento Popular para a Libertação de Angola), de orientação marxista. Surgiu também a Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola), em 1966, grupo de oposição ao MPLA.
Na década seguinte, com o acirramento da resistência, as dificuldades para manter o controle sobre as colônias aumentaram. Em 1973, um grupo de oficiais comandados pelo general Antônio de Spínola -crítico da política do governo na África- protestava em Lisboa contra os prejuízos da guerra colonial, fato que precipitou a queda do governo de Marcelo Caetano e ficou conhecido como Revolução dos Cravos (1974).
Esse episódio marcou o fim do império colonial português na África. Angola tornou-se independente com um governo de transição dividido entre MPLA e Unita, mas, antes da independência formal, em novembro de 1975 (Acordo de Alvor), o país já amargava uma terrível guerra civil.
O conflito durou 27 anos e destruiu o país. Cabinda (7.283 km2 e 300 mil habitantes), local do atentado, responde por 70% da produção petrolífera do país e já alcança os 2 milhões de barris/dia. Essa pequena província ao norte ficou separada territorialmente do restante do país desde 1913, em razão de um acordo entre Bélgica e Portugal que garantia ao Congo Belga uma saída para o Atlântico.
Durante os anos da guerra civil angolana, esse enclave, que esteve resguardado por razões estratégicas, agora reaparece nas malhas de um movimento separatista. Fácil crer que no ano da Copa em solo africano, os holofotes poderão iluminar mais que astros do futebol.

ROBERTO CANDELORI é professor do colégio Móbile.

rcandelori@uol.com.br


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