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Para Lima Duarte, desafio da profissão é campo de trabalho disputado e restrito
DA REPORTAGEM LOCAL
"Quando aceito uma proposta
de trabalho, mando avisar aos
meus amigos que morri", afirma
o ator Lima Duarte, 73, que, além
de atuar no teatro, participou de
cerca de 40 novelas e seriados e de
filmes como "Eu, Tu, Eles" (2000).
A profissão de ator requer dedicação e não há uma rotina definida.
Lima Duarte diz que se lembra de
um filme gravado no sertão
nordestino, quando sua maior preocupação era procurar algo para
comer. No teatro, a noite começa meia hora
antes do espetáculo, mas não tem hora para
acabar.
Folha - É possível descrever o dia-a-dia de um ator?
Lima Duarte - Não há um padrão. A rotina dura o tempo de
uma novela.
Folha - Como é a rotina de uma
novela?
Lima - Uma novela dura de sete a
oito meses. Durante esse período,
a rotina é acordar às 9h, ir para o
estúdio e gravar o dia inteiro. Não
há almoço, as gravações vão até as
21h. Quando temos uma folga entre uma cena e outra, comemos.
Folha - O cotidiano é cansativo?
Lima - O cotidiano dos estúdios
é muito estressante. Muita vaidade, muito ego, muito grito, muita
xingação. Vai e volta, beija, pega
aqui e pega ali, refaz a cena. As
pessoas ficam exauridas. Muitos
deitam em um cantinho e dormem. Descansam um pouco e retornam à cena. Quando se volta para casa, come-se alguma coisa e
começa-se a decorar o texto para
o dia seguinte.
Depois é só desmaiar na cama.
Folha - Tem de
ler muito?
Lima - No caso do
sinhozinho Malta
e da Porcina
["Roque Santeiro" (85/86)], por
exemplo, eu tinha cerca de 40 cenas
por dia. Cada cena, duas páginas.
Ou seja, no mínimo tinha de ler 80 páginas por dia.
Folha - Qual é o desafio do ator?
O campo de trabalho é disputado
e restrito. O estudante deve exercitar a sua habilidade na música e
na leitura da didática teatral e dos
grandes autores e verificar qual o
método teatral que mais lhe agrada. Deve ser um ator brasileiro, ou
seja, tem de criar um ser humano
que é único, construído por suas
memórias emotivas e pelo ambiente que o cerca. Eu, por exemplo, faço os caboclos, e as pessoas gostam.
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