UOL

      São Paulo, quinta-feira, 10 de abril de 2003
  Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Lima Duarte, desafio da profissão é campo de trabalho disputado e restrito

DA REPORTAGEM LOCAL

"Quando aceito uma proposta de trabalho, mando avisar aos meus amigos que morri", afirma o ator Lima Duarte, 73, que, além de atuar no teatro, participou de cerca de 40 novelas e seriados e de filmes como "Eu, Tu, Eles" (2000). A profissão de ator requer dedicação e não há uma rotina definida. Lima Duarte diz que se lembra de um filme gravado no sertão nordestino, quando sua maior preocupação era procurar algo para comer. No teatro, a noite começa meia hora antes do espetáculo, mas não tem hora para acabar.
 

Folha - É possível descrever o dia-a-dia de um ator?
Lima Duarte -
Não há um padrão. A rotina dura o tempo de uma novela.

Folha - Como é a rotina de uma novela?
Lima -
Uma novela dura de sete a oito meses. Durante esse período, a rotina é acordar às 9h, ir para o estúdio e gravar o dia inteiro. Não há almoço, as gravações vão até as 21h. Quando temos uma folga entre uma cena e outra, comemos.

Folha - O cotidiano é cansativo?
Lima -
O cotidiano dos estúdios é muito estressante. Muita vaidade, muito ego, muito grito, muita xingação. Vai e volta, beija, pega aqui e pega ali, refaz a cena. As pessoas ficam exauridas. Muitos deitam em um cantinho e dormem. Descansam um pouco e retornam à cena. Quando se volta para casa, come-se alguma coisa e começa-se a decorar o texto para o dia seguinte. Depois é só desmaiar na cama.

Folha - Tem de ler muito? Lima - No caso do sinhozinho Malta e da Porcina ["Roque Santeiro" (85/86)], por exemplo, eu tinha cerca de 40 cenas por dia. Cada cena, duas páginas. Ou seja, no mínimo tinha de ler 80 páginas por dia.

Folha - Qual é o desafio do ator?
O campo de trabalho é disputado e restrito. O estudante deve exercitar a sua habilidade na música e na leitura da didática teatral e dos grandes autores e verificar qual o método teatral que mais lhe agrada. Deve ser um ator brasileiro, ou seja, tem de criar um ser humano que é único, construído por suas memórias emotivas e pelo ambiente que o cerca. Eu, por exemplo, faço os caboclos, e as pessoas gostam.


Texto Anterior: Carreira/artes cênicas: Não é preciso ser ator para estar no palco do teatro
Próximo Texto: Cenógrafo tem de conhecer o humor dos personagens
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.