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DE FORA
Forasteiro enfrenta hostilidade
Universitários motivam pichações e reclamam de tratamento em aulas, praias e trânsito
THIAGO MOMM
ENVIADO ESPECIAL A FLORIANÓPOLIS
São cerca de 10 mil novos
moradores por ano em uma população que mal ultrapassou
400 mil. Florianópolis infla, e
os paulistas se tornam os menos desejados dos forasteiros.
Chamados de "haoles" (estrangeiros, em havaiano), universitários motivam pichações e reclamam de hostilidade em aulas, praias e trânsito.
Canetadas em três portas de
um banheiro da UFSC resumem a contrariedade com a
"invasão": "Os paulistas são os
nordestinos de Floripa", diz um
rabisco, respondido com: "Só
que eles só dominaram favelas
e nós vamos dominar tudo".
Na principal universidade da
ilha, a federal, alunos de São
Paulo foram 606 e 597 aprovados em 2005 e em 2006.
Aluna de uma sala a 50 metros dali, a estudante de direito
Débora Reparato, 21, não foi
apenas acusada de roubar vagas
dos locais. Como é de São José
do Rio Preto, disse a uma professora que queria viajar com a
família no final de ano -devido
a uma greve, a disciplina teria
aulas em dezembro. Recebeu a
resposta: "Quem mandou vir
fazer faculdade aqui?".
A três quilômetros da UFSC,
na Universidade do Estado de
Santa Catarina, os paulistas dificilmente são mais que dois
em uma sala, mas em alguns
cursos o sotaque começa a ser
sentido -e repelido. Isabela
Grotto, 20, que é de Campinas e
estuda moda, ouviu na primeira aula da então coordenadora
do curso, Icléia Silveira, que "a
universidade é paga pelos impostos dos catarinenses, então
os catarinenses deveriam ter
mais direitos" de estudar nela.
À Folha, a professora repetiu o
argumento e lamentou que o
curso de moda tenha chegado a
contar com apenas 11 alunos de
Santa Catarina em 45 matriculados. Sobre abordar o assunto
em sala, afirmou que o tom
usado é sempre de brincadeira.
Outra aluna paulista do curso de moda, que não quis se
identificar, teve problemas fora da universidade: estacionou
na praia da Armação e o xingamento "haole" foi talhado à
chave na porta do carro. A placa é de São Paulo.
O florianopolitano Cristiano,
24, que não revela o sobrenome, conhece os autores desse
tipo de protesto. São integrantes da comunidade do Orkut
"Fora Haole", criada por ele e
hoje com mais de 2.400 membros. "São caras que, quando
vêem um paulista, querem grudar no pescoço, mandar embora." Os ilhéus mais radicais filiados à "Fora Haole" vendem
adesivos e camisetas, picham
muros, hostilizam pessoas de
fora nas boates e no trânsito.
"Dar informação errada ou não
ajudar é normal", diz Cristiano.
Os seis universitários entrevistados que dirigem em Florianópolis com placas paulistas
relataram animosidades. A solução, dizem, é usar placa da cidade. Segundo levantamento
do Detran local, de abril a junho, São Paulo liderou os pedidos de transferência.
THIAGO MOMM participou do 41º Programa de
Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que
foi patrocinado pela Philip Morris Brasil
NA INTERNET - Provas e sites das
universidades
www.folha.com.br/061717
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