|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAIBA MAIS
HISTÓRIA
Populismo, para uso e abuso
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
No dia 24, completam-se 50
anos do suicídio de Getúlio
Vargas, que é reconhecido como
um dos mais bem-sucedidos políticos populistas. Então é oportuno retomar a questão da coluna
anterior e perguntar por que o populismo, apesar de ser um conceito frágil e insuficiente para explicar os fenômenos de que trata, se
consolidou e se popularizou.
O conceito de populismo foi
elaborado por acadêmicos paulistas na década de 60 e tinha como
objetivo fundamental fazer uma
crítica à prática política da esquerda no período entre o final da Segunda Guerra Mundial e o golpe
militar de 1964. Segundo essa visão, a esquerda e os movimentos
populares deixaram-se seduzir e
manipular por líderes políticos do
bloco dominante, que prometiam
medidas de caráter popular em
busca de apoio e de votos.
Uma vez no poder, administravam em benefício dos grupos dominantes que representavam. O
golpe militar de 64 era uma demonstração do fracasso dessa estratégia política e, agora, cabia à
esquerda e aos movimentos populares buscarem uma nova forma de ação política autônoma e
independente dos grupos dominantes (burguesia industrial, comercial, financeira etc.). Essa crítica teve ampla adesão no interior
da oposição de esquerda, que se
organizou contra o regime militar
e teve influência decisiva na criação do PT, por exemplo.
O interessante é que, assim como a "nova esquerda", os militares, os meios de comunicação, a
classe média, os setores empresariais e agrários que apoiaram o
golpe endossaram integralmente
a crítica ao chamado populismo
-mas com intenção diversa.
Como no pré-64 as propostas de
reformas e benefícios sociais estavam geralmente associadas a lideranças consideradas populistas
ou comunistas, produziu-se, nos
anos que se seguiram ao golpe,
uma associação intencional e enganosa: a de que políticos e personalidades públicas que se manifestavam contra as injustiças sociais e propunham medidas de caráter popular eram comunistas
ou populistas, isto é, "manipuladores" interessados em fazer carreira política baseados nos anseios populares.
Eram desmoralizados antes
mesmo de qualquer consideração
sobre a viabilidade de suas propostas. Dessa forma, a política
econômica antipopular que se seguiu ao golpe ganhava legitimidade e justificativa, pois parecia ser a
única alternativa entre o chamado
populismo e o comunismo.
Roberson de Oliveira é professor e autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora
FTD). E-mail: roberson.co@uol.com.br
Texto Anterior: Comunique-se Próximo Texto: Matemática dá prata e bronze ao Brasil Índice
|