São Paulo, quinta-feira, 12 de agosto de 2004
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HISTÓRIA

Populismo, para uso e abuso

ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

No dia 24, completam-se 50 anos do suicídio de Getúlio Vargas, que é reconhecido como um dos mais bem-sucedidos políticos populistas. Então é oportuno retomar a questão da coluna anterior e perguntar por que o populismo, apesar de ser um conceito frágil e insuficiente para explicar os fenômenos de que trata, se consolidou e se popularizou.
O conceito de populismo foi elaborado por acadêmicos paulistas na década de 60 e tinha como objetivo fundamental fazer uma crítica à prática política da esquerda no período entre o final da Segunda Guerra Mundial e o golpe militar de 1964. Segundo essa visão, a esquerda e os movimentos populares deixaram-se seduzir e manipular por líderes políticos do bloco dominante, que prometiam medidas de caráter popular em busca de apoio e de votos.
Uma vez no poder, administravam em benefício dos grupos dominantes que representavam. O golpe militar de 64 era uma demonstração do fracasso dessa estratégia política e, agora, cabia à esquerda e aos movimentos populares buscarem uma nova forma de ação política autônoma e independente dos grupos dominantes (burguesia industrial, comercial, financeira etc.). Essa crítica teve ampla adesão no interior da oposição de esquerda, que se organizou contra o regime militar e teve influência decisiva na criação do PT, por exemplo.
O interessante é que, assim como a "nova esquerda", os militares, os meios de comunicação, a classe média, os setores empresariais e agrários que apoiaram o golpe endossaram integralmente a crítica ao chamado populismo -mas com intenção diversa.
Como no pré-64 as propostas de reformas e benefícios sociais estavam geralmente associadas a lideranças consideradas populistas ou comunistas, produziu-se, nos anos que se seguiram ao golpe, uma associação intencional e enganosa: a de que políticos e personalidades públicas que se manifestavam contra as injustiças sociais e propunham medidas de caráter popular eram comunistas ou populistas, isto é, "manipuladores" interessados em fazer carreira política baseados nos anseios populares.
Eram desmoralizados antes mesmo de qualquer consideração sobre a viabilidade de suas propostas. Dessa forma, a política econômica antipopular que se seguiu ao golpe ganhava legitimidade e justificativa, pois parecia ser a única alternativa entre o chamado populismo e o comunismo.


Roberson de Oliveira é professor e autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD). E-mail: roberson.co@uol.com.br


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