São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004
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CÁLCULO DA DIFICULDADE

Para coordenadores, parte do problema está na maneira como elas são ensinadas

Média de acerto em exatas é de 31,7%

ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

No último vestibular da Fuvest, o número de candidatos que escolheram carreiras de humanas foi mais do que o dobro dos que optaram pelas de exatas. No mesmo processo seletivo, enquanto as matérias de humanas tiveram uma média de acerto de 46,92% do total de perguntas da área na primeira fase, nas de exatas, a média foi de 31,67%.
Física, matemática e química são as matérias em que os vestibulandos em média têm mais dificuldades na Fuvest e na Vunesp. As carreiras que têm essas disciplinas como base também costumam ser menos procuradas, apesar do bom mercado de trabalho.
Exemplo de vestibulando com dificuldades em exatas é o candidato de audiovisuais Heraldo Pereira de Souza, 21. Nos simulados, enquanto quase gabarita as questões de humanas, ele acerta apenas cerca da metade das de exatas. "Não gosto tanto das matérias de exatas e tenho que me esforçar muito mais para me sair bem."
Isso, segundo os coordenadores dos vestibulares das universidades estaduais de São Paulo, também professores universitários de matérias de exatas, deve-se, em parte, às próprias disciplinas e, em parte, ao modo de ensiná-las.
"Nada melhor do que um mau professor para criar ódio de alguma coisa. Já vi gente dando aula que, se eu fosse aluno, também odiaria física. Existe uma maneira desagradável de ensinar, que é a baseada em fórmulas, que é o menos importante", disse Leandro Tessler, coordenador-executivo do vestibular da Unicamp e professor de física na universidade.
O coordenador da Fuvest e professor da licenciatura em matemática da USP, Roberto Costa, também credita parte do problema aos docentes. "Se o estudante tem um professor que consegue despertar a atenção do aluno, ele não cria "anticorpos" contra a matéria." Por outro lado, ele afirma que as exatas têm uma especificidade que exige mais de professores e de alunos: o nível de abstração. "Em humanas, quando o professor fala em montanha, todo mundo sabe o que é uma montanha. Agora, e equação? O que é uma equação? Desenvolver essa capacidade de abstração é papel do professor", disse ele.
Uma das formas de tornar essas matérias menos abstratas, segundo ele, seria mostrar suas aplicações no cotidiano. "Trazendo para a vida prática, o estudante entende que tudo aquilo não é delírio de um monte de malucos."
A dificuldade específica de exatas, segundo o diretor acadêmico da Vunesp e professor da licenciatura em física da Unesp, Fernando Dagnoni Prado, está nos conceitos utilizados, que em geral são abstratos, e na linguagem matemática usada para expressá-los.
Para os vestibulandos, isso traz uma implicação no modo como devem estudar as matérias. De acordo com Prado, é importante que, antes de atacar os exercícios, o aluno entenda muito bem os conceitos envolvidos. "Um caminho é começar pelo conceitual, pelo qualitativo, e deixar o formalismo matemático, as fórmulas, para um segundo momento. Se for direto aplicar as fórmulas, vai ter duas dificuldades, a matemática e a de não saber a que se refere aquilo", disse ele.


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