São Paulo, quarta-feira, 15 de setembro de 2010
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QUÍMICA

LUÍS FERNANDO PEREIRA lula7@terra.com.br

Acelerando com uísque


Um biocombustível, subproduto da indústria de uísque, foi criado na Escócia


CALMA! NÃO É PARA BEBER E DIRIGIR! É que nos últimos dias foi divulgada uma notícia bem curiosa: um novo tipo de biocombustível, subproduto da indústria do uísque, foi desenvolvido na Escócia.
Ah, vá! Na Escócia? Onde mais... O momento é ótimo, pois a União Europeia divulgou que 10% do mercado de combustíveis deverão ser preenchidos pelos "combustíveis verdes" até 2020. Mas... qual a vantagem disso?
Ao contrário do petróleo, um combustível não renovável, que, portanto, um dia irá se esgotar e tem uma queima para lá de poluente -com emissão de gases que superaquecem o planeta e acidificam a chuva (inclusive o do pré-sal!)-, os biocombustíveis vêm de inesgotável biomassa. Etanol e biodiesel já são bem conhecidos, mas "combustível de uísque"... essa é nova!
Uma análise superficial leva a concluir que o planeta tem a ganhar, já que o uso de biomassa permite a reabsorção do gás carbônico (um gás estufa) emitido na queima do combustível. Isso graças à fotossíntese, processo em que CO2 e água, sob ação de luz, são fixados na estrutura vegetal, o que não é possível com o petróleo nem com o carvão mineral.
Usa-se também o termo combustível renovável, pois a matéria-prima (cana para o etanol brasileiro, oleaginosas para o biodiesel e cevada para o combustível de uísque), a tal da biomassa, renova-se a cada safra. Mas, daí a chamá-los de "limpos", há uma grande distância, pois há outros efeitos a considerar além da emissão/absorção de carbono, como a poluição gerada pelos compostos nitrogenados dos adubos.
É aí que os cientistas de kilt arrebentaram a boca do balão! Enquanto alguns cultivam lavouras, como as de cana e milho, muitas vezes só para fabricar biocombustíveis, os especialistas da Universidade de Edimburgo Napier usaram rejeitos da fabricação do uísque para desenvolvê-los. É um avanço, pois o uísque seria produzido de qualquer maneira. Percebeu a diferença?
Mas que combustível é esse? Do resíduo da destilação feita na produção do uísque obtém-se álcool butílico (butan-1-ol), que, afirmam os escoceses ao som comemorativo da gaita de foles, é superior ao etanol, com 25% mais energia liberada por unidade de volume queimada.
Além disso, ele também poderá ser usado diretamente em motores que queimam gasolina (sem necessidade de nenhuma adaptação), misturado a ela em quaisquer proporções. Um brinde a essa grande ideia.


LUÍS FERNANDO PEREIRA é químico formado pela USP, leciona no curso Intergraus e é coautor de "Planeta Química" (editora Ática).


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