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HISTÓRIA
A atualidade do movimento modernista
ROBERSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Um vício nacional, porém, impera: o vício da imitação. Tudo é imitação, desde a estrutura
política em que procuramos encerrar e comprimir as mais profundas tendências da nossa natureza social, até o falseamento das
manifestações espontâneas do
nosso gênio criador... Transplantados, são quase nulos os focos de
reação intelectual e artística. Passa
pelas nossas alfândegas tudo que
constitui as bênçãos da civilização: saúde, bem-estar material,
conhecimentos, prazeres, admirações, senso estético."
Nesse trecho de "Retrato do
Brasil", ensaio clássico publicado
pela primeira vez em 1928, Paulo
Prado expôs um traço herdado do
passado colonial que irradiou sua
influência por todo o período independente e marca presença
profunda até os dias de hoje.
Uma das críticas mais devastadoras a essa inclinação das elites
políticas e culturais do país pode
ser observada no conhecedor
mais agudo da nossa forma de ser:
Machado de Assis. Quem quiser
se divertir com uma crítica demolidora à fé exagerada nos poderes
da ciência, defendida pelos positivistas (doutrina fundada pelo
francês Augusto Comte) e muito
em voga no Brasil na transição do
Império para a República, leia "O
Alienista". Machado de Assis é a
prova inquestionável de que é
possível viver num país na periferia do capitalismo e pensar o
mundo numa perspectiva de independência e vanguarda.
Uma crítica mais abrangente,
sistemática e definitiva a essa postura submissa teve de esperar até
fevereiro de 1922, com a Semana
de Arte Moderna, em São Paulo.
O movimento propunha um resgate das expressões culturais autenticamente brasileiras, incorporando o que existia de mais avançado em termos de recursos formais, veiculados, sobretudo, pelas
vanguardas européias. A prática
da imitação cedia à busca da síntese. O "Manifesto Antropofágico", de Oswald de Andrade, dava
bem a medida do projeto: alimentar-se do estrangeiro para dele retirar a força e as virtudes que permitissem uma expressão renovada da nossa própria forma de ser.
Apesar do enorme avanço representado por essa percepção, é
comum a recaída nos esquemas
da imitação submissa, como a que
aconteceu ao longo da última década, quando o país se limitou a
aplicar o receituário econômico
formulado pelo chamado Consenso de Washington. Talvez seja
hora do resgate do núcleo da proposta da Semana de 22.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As
Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e
professor no Colégio Rio Branco e na
Universidade Grande ABC.
Email: roberson.co@uol.com.br
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