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REDAÇÃO DO LEITOR
Defeitos de raciocínio e falta de foco prejudicam texto
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O texto demonstra que o candidato tem consciência de
que o sistema educacional brasileiro favorece a ocorrência de
injustiças. Mas faltou enfocar o
tema pedido, ou seja, a situação
do ensino superior no Brasil.
Além disso, a redação apresenta alguns problemas de expressão. A linguagem, por
exemplo, tende ao registro coloquial ("está ruim do mesmo
jeito", "trabalhar em cima disso", "não tem pra ninguém"). É
bom lembrar que o vocabulário preciso valoriza as idéias.
No terceiro parágrafo, há um
defeito de raciocínio: tomou-se
por causa o que, na verdade, é a
conseqüência. O texto afirma
que o desempenho sofrível no
Enem explica o fato de uma
maior quantidade de alunos da
rede pública ter realizado o
exame. O desempenho medíocre pode ser explicado por esse
fato, mas não explicá-lo.
Ainda nesse parágrafo, conclui-se que os alunos não estão
preparados para fazer essa prova. Não podemos esquecer, no
entanto, que o objetivo do
Enem é aferir o nível de ensino
e o aproveitamento escolar dos
estudantes. A idéia de preparar-se para a prova parece incompatível com o propósito a
que se destina o exame.
No último parágrafo, o raciocínio é circular, ou seja, retoma
o seu ponto de partida: "Enquanto não mudar, vai ser
sempre assim". Além de não se
desenvolver, o pensamento
carrega uma incoerência: o advérbio "sempre" sugere algo
imutável, mas a construção
"enquanto não mudar" indica
um intervalo restrito de tempo
até que a mudança ocorra.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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