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      São Paulo, quinta-feira, 16 de janeiro de 2003
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REDAÇÃO DO LEITOR

Defeitos de raciocínio e falta de foco prejudicam texto

THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O texto demonstra que o candidato tem consciência de que o sistema educacional brasileiro favorece a ocorrência de injustiças. Mas faltou enfocar o tema pedido, ou seja, a situação do ensino superior no Brasil.
Além disso, a redação apresenta alguns problemas de expressão. A linguagem, por exemplo, tende ao registro coloquial ("está ruim do mesmo jeito", "trabalhar em cima disso", "não tem pra ninguém"). É bom lembrar que o vocabulário preciso valoriza as idéias.
No terceiro parágrafo, há um defeito de raciocínio: tomou-se por causa o que, na verdade, é a conseqüência. O texto afirma que o desempenho sofrível no Enem explica o fato de uma maior quantidade de alunos da rede pública ter realizado o exame. O desempenho medíocre pode ser explicado por esse fato, mas não explicá-lo.
Ainda nesse parágrafo, conclui-se que os alunos não estão preparados para fazer essa prova. Não podemos esquecer, no entanto, que o objetivo do Enem é aferir o nível de ensino e o aproveitamento escolar dos estudantes. A idéia de preparar-se para a prova parece incompatível com o propósito a que se destina o exame.
No último parágrafo, o raciocínio é circular, ou seja, retoma o seu ponto de partida: "Enquanto não mudar, vai ser sempre assim". Além de não se desenvolver, o pensamento carrega uma incoerência: o advérbio "sempre" sugere algo imutável, mas a construção "enquanto não mudar" indica um intervalo restrito de tempo até que a mudança ocorra.


Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha


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