São Paulo, quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
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QUÍMICA

LUÍS FERNANDO PEREIRA lula7@terra.com.br

Eu quero é respirar química


Programa europeu usa reações químicas para diminuir a poluição do ar


HÁ ALGUNS MESES, li numa coluna de uma importante revista semanal brasileira uma daquelas frases que tira qualquer químico do sério. Ela dizia que um dos maiores problemas das grandes cidades é "o ar cheio de química".
Não vou discutir esse tema de novo aqui, pois já o fiz.
Mas nunca é demais lembrar que o gás oxigênio é uma substância química... E química não é sinônimo de poluição nem veneno. Um recente programa europeu, aliás, de maneira muito engenhosa, usa reações químicas para diminuir a poluição do ar.
Os cientistas do programa "New Road Constructions Concepts" criaram um cimento purificador de ar. Ele foi impregnado por partículas de dióxido de titânio (TiO2), mais conhecido como o pigmento branco dos protetores solares (sim, a química protege sua pele da radiação solar nociva à saúde), e então usado para asfaltar estradas na Holanda e na Bélgica, como apontou, aliás, a ótima prova da Unicamp-2011. O funcionamento é o seguinte: o TiO2, em contato com o ar e sob ação da luz do Sol, catalisa, isto é, acelera a transformação dos super-poluentes óxidos de nitrogênio (NO e NO2, emitidos pelos automóveis) em nitratos, que, por sua vez, são absorvidos pelo tal asfalto. Resultado: ar mais limpo! É a química na luta contra a poluição.
E tem mais: pesquisadores da universidade chinesa Shanghai Jiao Tong, usando o mesmo TiO2, podem ir mais longe e resolver até mesmo o problema da emissão de poluentes pelos automóveis. Explico: há muito se sabe que carros movidos a hidrogênio (H2) podem ser a solução para o meio ambiente, uma vez que a queima desse combustível produz só vapor d'água.
O hidrogênio, porém, também tem seus problemas. Sua síntese, por exemplo, costuma ser poluente. Só que agora isso parece ser passado. Os chineses aqueceram uma mistura de folhas (de árvore mesmo) tratadas com ácido clorídrico e íons de titânio a 500C, de modo a formar um material conhecido como "folha artificial", nada mais que TiO2 cristalizado em uma base vegetal. O resultado é um catalisador capaz de captar a luz do Sol e de acelerar muito, muito mesmo a reação de decomposição da água (2 H2O 2 H2 + O2).
Isso significa que as "folhas artificiais" podem ser a solução para a produção do tão desejado combustível limpo. Assim, a química seria a responsável direta por um planeta mais saudável. Será que um dia lerei nas revistas algo como "Sem química não há vida" ou "Químicos dizimam a poluição do ar"? Não custa sonhar...

LUÍS FERNANDO PEREIRA é químico formado pela USP, leciona no curso Intergraus e é coautor de "Planeta Química" (editora Ática).


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