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AS VILÃS DO VESTIBULAR
Falta de ligação com o cotidiano causa desinteresse
DESEMPENHO EM EXATAS DEPENDE TAMBÉM DE CONHECIMENTO ACUMULADO PELO ESTUDANTE
ANDRÉ NICOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu odeio números", diz a estudante Marcela Polido Serra,
16. Já sua amiga Milena Rachel de
Queiroz, 17, afirma não ver aplicação prática para a física e a matemática. As duas, assim como
grande parte dos vestibulandos,
afirmam que matemática, física e
química são as que mais causam
problemas na hora de estudar.
Nos cinco últimos vestibulares
da Fuvest, física sempre esteve entre as três matérias com pior desempenho médio na primeira fase, química esteve por quatro vezes e matemática por duas. No
ano passado, matemática foi a
disciplina em que os estudantes
foram pior na primeira fase.
A falta de ligação do que é ensinado com aplicações práticas no
cotidiano do estudante é uma das
principais causas da falta de interesse dos alunos pelas matérias de
exatas, o que ocasiona o mau desempenho nessas disciplinas.
"O aluno, quando não vê sentido no que é ensinado, tende a esquecer a matéria, porque ninguém guarda algo que não será
usado. Essas matérias têm um
sentido, mas ele não é mostrado
em sala de aula", disse Marcelo
Lellis, professor e autor de livros
didáticos de matemática.
"Acho que não consigo entender física por causa do meu comodismo. Se fizesse exercícios todos os dias, acho que iria melhor,
mas não me interesso pela matéria", disse Kelly Vilela, 22, que
tentará um vaga em gastronomia.
As aplicações práticas da matemática, física e química, segundo
especialistas, não são apresentadas em sala devido, muitas vezes,
à baixa qualidade da formação
dos professores. "Eu mesmo não
vi nada na faculdade sobre aplicações práticas da química. Tive de
ir atrás disso por minha conta",
disse o professor Luís Fernando
Pereira, formado na USP.
Segundo ele, como alguns professores não entram em contato
com o dia-a-dia das matérias, acabam ensinando uma "ciência
feia" para os alunos.
"Eu não gosto de exatas e, por
isso, não estudo nada fora da sala
de aula", disse Vanessa Harima,
20, que fez colégio técnico em publicidade e só teve matemática, física e química no primeiro ano do
ensino médio.
Pablo Ramos Machado, 22,
também fez colégio técnico. Ele
não sofre muito com matemática
porque teve a matéria nos quatro
anos do colégio, mas considera
química "cruel". "Só tive balanceamento químico e olhe lá", disse ele, que tentará uma vaga em
engenharia. Ele está revisando as
matérias exatas desde o início e dá
menos atenção para as humanas.
O baixo desempenho de Vanessa e Machado talvez se deva ao
chamado conhecimento cumulativo. O encadeamento lógico dos
conteúdos em exatas faz com que
o aluno, se não souber uma parte
fundamental da matéria, não
aprenda as que vierem em seguida. "Se o estudante não souber somar, ele não saberá multiplicar e
assim por diante", diz o professor
da FGV-RJ Elon Lages Lima.
Segundo ele, para que o estudante entenda as matérias exatas,
ele tem de ter mais atenção e perseverança do que em outras disciplinas, pois elas exigem mais raciocínio lógico e, às vezes, demandam que um exercício seja refeito.
Além disso, segundo Lima, ter um
"talento" pessoal para a área também ajuda o estudante a absorver
mais facilmente os conteúdos.
Linguagem
A linguagem utilizada na matemática, na física e na química é
outro fator que contribui para
amedrontar o vestibulando. "Em
matérias de humanas, a linguagem e o raciocínio utilizados são
os mesmos do dia-a-dia do aluno.
A matemática, por sua vez, tem
uma linguagem própria", disse o
coordenador da área de exatas do
Etapa, Élio Mega. Segundo ele,
uma forma de combater a rejeição
às exatas é tentar "desmatematizar", quando possível, as matérias. "O professor pode levar bolinhas, por exemplo, e contextualizar o assunto em vez de só apresentar as fórmulas."
Luiz Carlos Gomes, professor
do Instituto de Física da USP e
membro da Câmara Curricular e
de Vestibular da universidade
-órgão que sugere mudanças na
Fuvest- disse que a tendência é
que a primeira fase da Fuvest cubra mais a parte qualitativa e as ligações com o dia-a-dia.
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