LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Chuva ácida, efeito estufa, buraco na camada de ozônio... A química contra a natureza. Mas será sempre assim? Dificilmente escutamos um elogio a essa ciência ou encontramos alguém que reconheça a sua importância no mundo moderno. E você também acha que a química e a natureza são inimigas mortais? Então não deixe de ler esta coluna.
Em muitos países, a pesca de lagostas que carregam ovos é ilegal. Por isso muitos pescadores arrancam esses ovos, em vez de devolverem esses animais ao mar, antes de os fiscais inspecionarem o produto da pesca do dia. Acontece que a cola natural que gruda os ovos à sua mãe é muito forte, o que dificulta a tarefa suja desses homens. Até o dia em que eles descobriram que a água de cloro (cândida) ajuda a dissolver essa cola. Isso facilitou muito o crime. Mas como provar que esse crime foi cometido? É aí que a química entra em campo. Como você deve saber, existe uma fila de reatividade que rege as reações de deslocamento dos não-metais: °. Isso significa que o flúor desloca o oxigênio, que desloca o cloro e assim por diante.
Baseados nesse simples conceito químico, os cientistas desenvolveram um teste capaz de detectar água de cloro nas lagostas até dez dias depois do delito. Eles mergulham o abdômen da lagosta em uma solução aquosa de iodeto de potássio. O que acontece ? Uma reação química, já que o cloro é capaz de deslocar o iodeto: °.
Essa reação, por sua vez, é facilmente perceptível porque o iodo (I2(aq)) formado é castanho, isto é, começamos com uma solução incolor (KI(aq)) e terminamos com uma coloração castanha. Conclusão: se houver alteração na cor da solução, o pescador vai parar atrás das grades.
Tecnicamente falando, podemos dizer que o Cl2 que sobrou na lagosta oxidou o I- a I2 (o número de oxidação (nox) do iodo subiu de -1 para 0. Esse aumento do nox chama-se oxidação). Por isso o Cl2 é chamado de agente oxidante. Uma pergunta: se, no lugar de iodeto de potássio, usássemos solução de brometo de sódio °°, o teste ainda poderia ser feito?
Esse é um exemplo bastante simples, mas que deixa claro que a química está longe de ser uma inimiga da natureza. No mundo, na natureza e até salvando as lagostas, a química está em todo lugar.