São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007
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AO MESMO TEMPO

Graduação dupla exige planejamento

Especialistas divergem sobre escolha, que pode fortalecer a formação ou mostrar indecisão

Filipe Redondo/Folha Imagem
Danilo Ferreira Fonseca, que faz PUC de manhã e USP à noite e ainda arruma tempo para namorar

LUISA ALCANTARA E SILVA
DA REDAÇÃO

De manhã, escola. À tarde, teatro. Mais tarde, inglês. Assim era o dia-a-dia de Patricia Quero há dois anos. Hoje, aos 18, prestes a fazer vestibular, ela continua tentando agarrar o mundo com as mãos. Com o objetivo de ser jornalista, não se contenta em cursar jornalismo: também pensa em estudar letras. E, lá pelo segundo ano dos cursos, pretende fazer estágio.
"Gosto de letras, acho que vai ser um complemento para a minha formação como jornalista", diz ela. E vai conseguir fazer tudo isso? "Ah, se ficar muito puxado, tranco a [faculdade de] letras por um tempo e depois termino."
Fazer duas graduações simultaneamente divide as opiniões de especialistas. Há os que defendem a prática, por fortalecer a formação do universitário, e os que a criticam, dizendo que é melhor fazer uma graduação bem feita do que duas "mais ou menos", o que, segundo eles, quase sempre acontece.
O vestibulando que pretende fazer dois cursos deve colocar na balança os prós e contras e analisar o que é melhor para o seu perfil. Se optar pelos dois cursos, terá de planejar com cuidado seu cotidiano, além dos gastos com mensalidade, transporte e alimentação.
O coordenador de vestibulares do cursinho Anglo, Alberto Francisco Nascimento, se encaixa no grupo que acha que é melhor não fazer simultaneamente. "Não sou a favor de se fazer dois cursos juntos", diz. "Um porque o primeiro ano da faculdade é muito puxado, então o aluno pode deixar uma faculdade de lado em favor da outra. Outro porque é muito comum o calouro gostar mais de uma e esquecer completamente a segunda opção."
Foi o que aconteceu com o universitário Raphael Cerqueira, 26. Em 2002, ele ingressou em economia na PUC e em história na USP. Dois anos depois, ele desistiu da PUC e continua até hoje só cursando história. "É complicado levar as duas [faculdades] ao mesmo tempo. Ainda mais quando são duas puxadas", diz. "Como me identifiquei mais com história, fiquei só nela e hoje me dedico muito mais do que me dedicava quando entrei."
Essa decisão de Raphael, de largar uma faculdade, poderia ser evitada, segundo Nascimento. Para ele, "o melhor é entrar primeiro em uma e só pensar em prestar a outra dois anos depois. Nesse intervalo, o estudante vai saber melhor se quer mesmo e se precisa fazer outra faculdade".
Para Eder Melgar, coordenador do cursinho Intergraus, a opção de fazer dois cursos juntos é vantajosa. "Ainda mais quando há afinidade entre as duas faculdades, como direito e letras", diz ele. "O aluno conhece mais áreas que uma pessoa que fez só um curso."
"Fazer a graduação dupla amplia as possibilidades de trabalho", concorda Dário Henrique Allipradini, diretor da faculdade Etapa.
Opinião diferente tem a psicóloga Maria da Conceição Coropos Uvaldo, coordenadora do Serviço de Orientação Vocacional da USP. Para ela, "o que se valoriza é fazer um bom curso. Depois, pode-se fazer uma especialização em outra área." Seu colega no departamento e também psicólogo Fabiano Fonseca da Silva completa: "O graduando não pode esquecer que precisa de um tempo para lazer e relações afetivas".
Pelo menos por enquanto, o universitário Danilo Ferreira Fonseca, 21, está seguindo esse conselho. Faz história na PUC de manhã e ciências sociais na USP à noite e ainda arruma tempo para namorar. Assume que não lê todos os textos recomendados pelos professores, mas consegue ir bem nas provas. "As pessoas acham que quem faz dois cursos só estuda. É mentira. Tenho tempo para fazer outras coisas", afirma.
Um exemplo de quem conseguiu levar duas faculdades é o professor Clóvis de Barros Filho, que dá aulas na USP e na ESPM. Em 1982, ele entrou em direito na USP e em jornalismo na Cásper Líbero. Saiu das duas sem repetir nenhuma disciplina e gaba-se de ter 9,2 como média final em direito. "O aluno que faz duas é mais crítico, ele terá um olhar crítico até sobre as faculdades que faz." Não satisfeito, ele ainda fez filosofia, mas isso mais de dez anos depois de se formar nas duas primeiras. E você, agüentaria?


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