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NOVO ENEM
Mudança em exames diminui decoreba, mas é preciso memorizar
Ao estudar, aluno memoriza conteúdos por repetição
RAFAEL SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Cada vez mais, os vestibulares cobram interpretação de
texto e raciocínio lógico -regra
que também vale para o Enem.
Mas memorizar alguns conteúdos ainda é necessário e inclusive faz parte do aprendizado,
afirmam coordenadores de
cursinho ouvidos pela Folha.
"A memorização não foi eliminada dos vestibulares nos
últimos dez anos. Ela só não é
mais a prioridade. Nenhuma
prova vai cobrar decoreba em
si, como o nome de um rio", diz
Alessandra Venturi, coordenadora do Cursinho da Poli.
Os nomes de um rio ou de
uma capital, por exemplo, estarão dentro de um contexto
maior, relacionados a duas ou
três disciplinas, afirma a diretora do Cursinho do XI de
Agosto, Augusta Aparecida.
"A melhor forma de se preparar para o vestibular é ler e
estudar muito. Dessa maneira,
o aluno memoriza os conteúdos por repetição", ressalta.
Quanto mais estuda, mais o
candidato assimila informação
e a relaciona com outros assuntos. Assim se dá o processo de
aprendizagem, afirma o diretor
do cursinho COC em São Paulo, William Saito.
"A memorização faz parte do
dia a dia, faz parte de exercitar
e armazenar os conteúdos", diz
o diretor. Sem esse "armazenamento", completa Saito, fica difícil entender o que está sendo
pedido em questões interdisciplinares, por exemplo.
Alguns vestibulares, como a
Unesp e Unicamp, fornecem a
tabela periódica e a maioria das
fórmulas e equações para os estudantes. "A universidade quer
o aluno crítico, que raciocine e
saiba tirar suas próprias conclusões sobre os assuntos da
atualidade. Memorizar é importante, mas o que conta é entender", afirma Leandro Tessler, coordenador-executivo da
Comvest (comissão que organiza o vestibular da Unicamp).
Nem o Enem
Apesar de o ministro da Educação Fernando Haddad afirmar que o novo Enem não vai
exigir que se decore fórmulas,
nem essa prova vai deixar de
cobrar um pouco de memorização, ponderam coordenadores
de cursinho.
O aluno pode esperar o mesmo nível de cobrança de uma
Fuvest ou Unesp. "Em termos
de conteúdo, o programa do
novo Enem está muito similar a
vestibulares já consagrados",
afirma Alberto Francisco do
Nascimento, diretor do Anglo.
Professora da USP e especialista em ensino superior, Eunice Ribeiro Durham é cética
com relação ao novo Enem.
"Criam-se vários jargões, como "análise de competências",
"interdisciplinaridade", mas no
fundo os bons vestibulares, o
Enem incluído, não podem deixar de cobrar conteúdo ou vão
acabar não selecionando bem
os alunos", diz ela.
"Decoreba é um termo negativo, e muita gente confunde isso com cobrança de conteúdo.
Não é errado cobrar conteúdo."
Ao contrário de Durham,
Leandro Tessler está otimista
quanto ao novo formato do exame. "O novo Enem chega para
mostrar que é possível ensinar
com raciocínio lógico e para enterrar de vez a "decoreba em si"
dos vestibulares", diz.
Ele avalia que muitos exames
de federais que serão substituídos ainda funcionam por decoreba. "Se mudar isso e o currículo do ensino médio, é muito
positivo", afirma.
Como vai ficar?
Até agora ninguém sabe exatamente como ficarão os vestibulares e o novo Enem, avalia a
professora Durham.
"Há promessas de simulados,
mas até agora não apareceu nada, então gera uma grande ansiedade nos estudantes. Não se
brinca com o vestibular", afirma ela, referindo-se às mudanças na Fuvest.
Decorar o conteúdo de algumas aulas é o que preocupa o
estudante Giovanni Barrachi,
18, que está prestando engenharia mecânica na USP pela
segunda vez.
"Uso frases e músicas para
gravar principalmente matéria
de química e física. Acho que
memorizar ainda faz diferença", diz ele. Barranchi estuda
até seis horas por dia fora do
horário de aula no Etapa.
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