São Paulo, terça-feira, 19 de maio de 2009
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NOVO ENEM

Mudança em exames diminui decoreba, mas é preciso memorizar

Ao estudar, aluno memoriza conteúdos por repetição

RAFAEL SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Cada vez mais, os vestibulares cobram interpretação de texto e raciocínio lógico -regra que também vale para o Enem. Mas memorizar alguns conteúdos ainda é necessário e inclusive faz parte do aprendizado, afirmam coordenadores de cursinho ouvidos pela Folha.
"A memorização não foi eliminada dos vestibulares nos últimos dez anos. Ela só não é mais a prioridade. Nenhuma prova vai cobrar decoreba em si, como o nome de um rio", diz Alessandra Venturi, coordenadora do Cursinho da Poli.
Os nomes de um rio ou de uma capital, por exemplo, estarão dentro de um contexto maior, relacionados a duas ou três disciplinas, afirma a diretora do Cursinho do XI de Agosto, Augusta Aparecida.
"A melhor forma de se preparar para o vestibular é ler e estudar muito. Dessa maneira, o aluno memoriza os conteúdos por repetição", ressalta.
Quanto mais estuda, mais o candidato assimila informação e a relaciona com outros assuntos. Assim se dá o processo de aprendizagem, afirma o diretor do cursinho COC em São Paulo, William Saito.
"A memorização faz parte do dia a dia, faz parte de exercitar e armazenar os conteúdos", diz o diretor. Sem esse "armazenamento", completa Saito, fica difícil entender o que está sendo pedido em questões interdisciplinares, por exemplo.
Alguns vestibulares, como a Unesp e Unicamp, fornecem a tabela periódica e a maioria das fórmulas e equações para os estudantes. "A universidade quer o aluno crítico, que raciocine e saiba tirar suas próprias conclusões sobre os assuntos da atualidade. Memorizar é importante, mas o que conta é entender", afirma Leandro Tessler, coordenador-executivo da Comvest (comissão que organiza o vestibular da Unicamp).

Nem o Enem
Apesar de o ministro da Educação Fernando Haddad afirmar que o novo Enem não vai exigir que se decore fórmulas, nem essa prova vai deixar de cobrar um pouco de memorização, ponderam coordenadores de cursinho.
O aluno pode esperar o mesmo nível de cobrança de uma Fuvest ou Unesp. "Em termos de conteúdo, o programa do novo Enem está muito similar a vestibulares já consagrados", afirma Alberto Francisco do Nascimento, diretor do Anglo.
Professora da USP e especialista em ensino superior, Eunice Ribeiro Durham é cética com relação ao novo Enem.
"Criam-se vários jargões, como "análise de competências", "interdisciplinaridade", mas no fundo os bons vestibulares, o Enem incluído, não podem deixar de cobrar conteúdo ou vão acabar não selecionando bem os alunos", diz ela.
"Decoreba é um termo negativo, e muita gente confunde isso com cobrança de conteúdo. Não é errado cobrar conteúdo."
Ao contrário de Durham, Leandro Tessler está otimista quanto ao novo formato do exame. "O novo Enem chega para mostrar que é possível ensinar com raciocínio lógico e para enterrar de vez a "decoreba em si" dos vestibulares", diz.
Ele avalia que muitos exames de federais que serão substituídos ainda funcionam por decoreba. "Se mudar isso e o currículo do ensino médio, é muito positivo", afirma.

Como vai ficar?
Até agora ninguém sabe exatamente como ficarão os vestibulares e o novo Enem, avalia a professora Durham.
"Há promessas de simulados, mas até agora não apareceu nada, então gera uma grande ansiedade nos estudantes. Não se brinca com o vestibular", afirma ela, referindo-se às mudanças na Fuvest.
Decorar o conteúdo de algumas aulas é o que preocupa o estudante Giovanni Barrachi, 18, que está prestando engenharia mecânica na USP pela segunda vez.
"Uso frases e músicas para gravar principalmente matéria de química e física. Acho que memorizar ainda faz diferença", diz ele. Barranchi estuda até seis horas por dia fora do horário de aula no Etapa.


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