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PORTUGUÊS
Paralelismo sintático torna texto mais preciso
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Não, não se trata de defender mais intervenção do Estado
na economia ou que o Estado volte a produzir aço..." O trecho, recentemente publicado na Folha, fere o princípio do paralelismo
sintático, segundo o qual quaisquer elementos da frase coordenados entre si devem apresentar
estrutura gramatical similar.
Para que a frase tivesse simetria,
os núcleos do objeto direto do
verbo "defender" teriam de ser de
mesma natureza (ambos verbos
ou ambos substantivos). Assim:
"... não se trata de defender mais
intervenção do Estado na economia ou a volta da produção estatal
de aço...". Ou: "...não se trata de
defender que o Estado intervenha
mais na economia ou que volte a
produzir aço...".
O princípio do paralelismo facilita a leitura do enunciado e proporciona clareza à expressão. Na
maioria das vezes, é intuído pelo
próprio falante. Há certas expressões -por exemplo, os pares correlativos "não só... mas também",
"tanto... como", "seja... seja",
"quer... quer", "antes... que"-
que criam no leitor a expectativa
de uma construção simétrica ou
paralela. Assim, dizemos: "Ele
não só trabalha mas também estuda". Mas possivelmente não diríamos: "Ele não só trabalha mas
também é estudante".
Um período como: "Trata-se de
um argumento forte e que pode
encerrar o debate..." rigorosamente fere o princípio do paralelismo sintático, pois o substantivo
"argumento" é modificado pelo
adjetivo "forte" e pela oração subordinada adjetiva "que pode encerrar o debate...". E a conjunção
"e" deveria coordenar elementos
de valor sintático idêntico (ou
dois adjetivos, ou duas orações
subordinadas adjetivas).
Eliminando-se a coordenação,
o enunciado flui sem exigir a simetria. Assim: "Trata-se de um
argumento forte, que pode encerrar o debate...".
Também seria possível empregar dois adjetivos: "Trata-se de
um argumento forte, capaz de encerrar o debate...". Ou mesmo
duas orações adjetivas: "Trata-se de um argumento que é forte e que pode encerrar o debate...".
É comum que a ausência de simetria ocorra na colocação da partícula negativa. No seguinte trecho: "Tal método não ocupa a tela de modo escancarado, mas por meio do acúmulo de imagens", extraído de questão da Fuvest, o paralelismo estaria garantido caso o advérbio "não" fosse colocado antes da expressão "de modo escancarado", pois o método ocupa a tela não de um jeito, mas de outro. Não é a ação de ocupar que deve ser negada.
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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