São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004
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VALE A PENA SABER

QUÍMICA


Uma reação muito quente

LUÍS FERNANDO PEREIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Meia-noite. Agentes secretos invadem a embaixada inimiga. Tudo parece bem. Logo eles encontram o cofre. Mas, quando o abrem... Fogo! O intenso calor queima tudo. Não sobra nada." Cena de cinema? Não mesmo. Esse "truque" é realmente utilizado, e uma simples reação química explica tudo. Seus reagentes são, acredite, ferrugem e alumínio! Vamos entender?
Como você sabe, poucos metais são encontrados puros na natureza. Muitos aparecem combinados, por exemplo, com o oxigênio, como o ferro -freqüentemente encontrado na forma de hematita (Fe2O3)- e o alumínio (como bauxita, Al2O3). Quando os metais se combinam com o oxigênio, eles perdem alguns de seus elétrons para esse elemento e transformam-se em cátions. Nessa situação, dizemos que esses metais estão oxidados.
O alumínio é um dos metais que apresentam uma das mais fortes tendências a sofrer oxidação (mais do que o ferro). Assim, ao colocar um pouco dele (Al0) em contato com hematita (pode ser ferrugem), podemos dizer que o alumínio "rouba" oxigênio dela: 2 Al0 + Fe2O3 Al2O3 + 2 Fe0. Além dos reagentes, precisamos apenas de uma fita de magnésio que, ao queimar, fornece a energia de ativação que inicia o processo (da mesma maneira que riscar um palito de fósforo libera o calor necessário para que se inicie sua combustão).
A reação funciona como se o alumínio estivesse querendo voltar a ser bauxita. A "vontade" desse metal de sofrer a oxidação se reflete na enorme quantidade de calor liberada. Sabe qual a temperatura atingida? 2.200C!! Não sobra nenhum documento inteiro, né?
Nem o ferro agüenta! Como ele funde a 1.530C, forma-se ferro líquido. Por esse motivo, essa reação (a termita) acaba tendo outras utilidades, como soldar trilhos de trem. Em qualquer lugar pode-se montar um aparelho bem simples que derrame o ferro líquido sobre os trilhos. À temperatura ambiente, o metal fundido solidifica sobre eles, soldando-os. De uma maneira mais controlada, essa reação pode até ser usada para aquecer a marmita de soldados em combate!
Agora, se você vir os ladrões do início desse texto apagando o fogo da termita com água, aí sim é coisa de cinema. É que o calor liberado é tanto que a água seria decomposta por ele, gerando o altamente explosivo gás hidrogênio (H2). Seria uma péssima idéia...


Luís Fernando Pereira é professor do curso Intergraus e coordenador de química do sistema Uno/Moderna. E-mail: lula7@terra.com.br


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